sexta-feira, 14 de junho de 2013

As manifestações do povo...

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Ao ver as passeatas sobre o aumento do transporte público, ver as destruições realizadas pelos manifestantes, ver as agressões dos policiais e ver textos de muitos jornalistas de várias formas de mídias sendo contrários a estas manifestações, chego a conclusão que sobe as informações superficiais sensacionalistas, existem  razões mais enraizadas e que levam a essas violências.
O surgimento de padrões violentos suscitados por humilhação, desconsideração das necessidades básicas do ser humano, tais como educação, saúde, moradia, transportes, segurança e salário digno, fez com que surgisse estas manifestações.
A violência esta em não favorecer a população de requisitos básicos de bem viver, temos as maiores taxas de impostos do mundo e este dinheiro todo não é aplicado devidamente, o que vemos é aqueles que deveria gerir adequadamente o dinheiro público, engalfinharem em conchavos espúrios e corruptivos.
O problema não é o vinte centavos de aumento pois ele é apenas um sintoma da doença, o povo vem somatizando  esta doença a muito tempo e se hoje responde de forma violenta e por que o impulso da raiva é uma forma de possibilitar a transformação, de defesa e de alerta.
Vejo que muita gente vem falando que esta manifestação proveem de pessoas da classe média e não tem necessidade destas manifestações, acho  ridículo estas alegações, afinal  todos são povo, todos pagam impostos, todos tem direitos e deveres.
Cansamos de ser manipulados por minorias "pensantes", elas apenas querem manter as coisas como estão ou seja; muitos chamados, poucos escolhidos...
As religiões afro brasileiras não coaduna com estes pensamentos de submissão, de manipulação e de exclusão, somos pela melhoria de todos, e como diz meu mestre: não queremos o céu depois de morrer, queremos ele aqui e agora.
Ygbere
Discípulo de mestre Arhapiagha

sábado, 8 de junho de 2013

A ancestralidade do solo brasileiro...

QUESTÕES DE PALEONTOLOGIA HUMANA: 
O HOMEM NAS AMÉRICAS
Autor(es) Maria da Conceição de M. Coutinho Beltrão & Rhoneds Aldora R. Perez
RESUMO
Evidências arqueológicas e geológicas conjugadas a datações absolutas ou relativas vêm sugerindo que os sítios sul-americanos foram ocupados pelo homem pré-histórico desde o Pleistoceno Médio. Um desses sítios, o de Itaboraí, poderia ter sua ocupação recuada ao Pleistoceno Inferior. As autoras levantam a possibilidade de essas evidências fazerem parte de um conjunto de achados revolucionários na Eurásia, no campo da paleontologia humana, que vêm abalando os chamados “modelo Africano” e “modelo multidirecional”. Comparam sítios com horizontes “projéteis” e “pré-projéteis” dos dois continentes. No primeiro caso, os da América do Sul, embora mais antigos, parecem ser parcialmente sincrônicos aos da América do Norte. Já os pré-projéteis da América do Sul parecem muito mais antigos, talvez pelo fato das descobertas da América do Norte ser ainda insuficientes.
Palavras-chave: Arqueologia: Pleistoceno Médio, Paleontologia Humana.



1. Introdução
O homem faz parte da natureza, do universo com todos os seus fenômenos. O estudo do homem é chamado antropologia que quando realizado segundo os métodos e as técnicas científicas torna-se uma ciência natural. Um dos ramos da antropologia se ocupa da estrutura e da natureza física do homem assim como de seus processos fisiológicos. Este ramo tradicionalmente é chamado de antropologia física ou mais modernamente, bioantropologia. Mas ela é muito mais que isso: inclui todas as obras e atividades humanas. Por essa razão pode-se dizer que é a ciência do homem e da cultura.
O homem é primeiramente um organismo biológico e secundariamente um animal social. Conseqüentemente, estuda-lo do ponto de vista físico é primordial para compreender sua natureza.
O objetivo da bioantropologia é conhecer as características biológicas das populações humanas antigas e modernas. Só assim poderá obter dados sobre a estrutura, o crescimento e a fisiologia do corpo humano em detalhe.
A evolução humana também integra esse campo de estudo na medida em que busca respostas para questões como: o que ocorreu e como ocorreu. Para responder a primeira pergunta – o que ocorreu? – lança mão de estudos comparativos dos fósseis, ou seja, dos estudos paleontológicos.  Já com relação ao “como” só é possível encontrar respostas a partir dos estudos  genéticos e das adaptações ao meio.

2. O que dizem os fósseis
A dispersão do gênero Homo provavelmente se deu durante um período de resfriamento global ocorrido entre 3.0 – 2.4 milhões de anos atrás. Sabe-se que, na África, durante essa época, muitas espécies de mamíferos ou foram extintas ou passaram por um processo de especiação ou simplesmente se dispersaram.
O crescente número de achados de fósseis de hominídeos e de indústrias líticas (artefatos confeccionados a partir de rochas e de minerais) datados em cerca de 2.0 milhões de anos parece sugerir que uma população mais antiga, também do gênero Homo, teria chegado à Ásia Oriental em poucas centenas de milhares de anos logo após seu aparecimento na África.
Dentre as descobertas importantes de serem citadas com relação à dispersão humana na Ásia a partir da África, destacamos a da caverna de Longgupo, a sudeste da Província de Sichuan, na China, datada em 1.9 milhões de anos atrás. Os dentes do hominídeo de Longgupo possuem afinidades com os do mais antigo Homo africano assim como os artefatos líticos são semelhantes aos instrumentos africanos mais antigos.
De acordo com Larick e Ciochon (1996) há fortes indícios de que o homem emergiu não tanto como conseqüência da necessidade de se adaptar a novas condições ambientais, mas, também, para dominar novas fontes de recursos naturais disponíveis em novos territórios.
Mesmo se nos ativermos, em nossas considerações, simplesmente ao Homo sapiens, ainda assim não conseguiremos explicar convenientemente a origem africana deste e sua distribuição pelo mundo.
Por exemplo, ossos fossilizados encontrados em 2003, numa caverna perto de Pequim (Tianyuan), foram datados de 42 mil anos segundo os pesquisadores da Universidade de Washington, Erik Trinkous e Hong Shang. Basicamente temos um Homo sapiens com dentes e ossos das mãos apresentando características arcaicas. Segundo os autores (vide Proceedings of the National Academy os Sciences, abril 2007) isso significaria que os homens sapiens, vindos da África, se cruzaram com homens arcaicos que já viviam na Eurásia. Seria essa a única explicação?
Se o estudo dos homens sapiens tem tal complexidade, o que podemos dizer do estudo dos homens fósseis pré-sapiens?
O fato é que a árvore genealógica do homem tem sido constantemente revista, o que evidencia com muita certeza sua fragilidade.
Em 1988, Beltrão, Danon e Doria, consideraram o Homo erectus “o grande viajante”. Mais recentemente, referimo-nos a um conjunto de crânios descobertos em uma aldeia medieval – Dmanisi - situada junto à antiga rota da Seda, na Geórgia (país do Cáucaso). Esse achado, que apresenta características do Homo habilis, é considerado, agora, como testemunho do primeiro hominídeo a sair da África. Foi datado na Eurásia em cerca de 1.8 milhões de anos.
Surpreendentemente, os crânios de Dmanisi têm boas condições de fossilização. Um deles está praticamente completo. Apresenta caninos avantajados, osso da testa (frontal) muito fino e nariz pequeno demais. Com rosto que se assemelha ao do Homo habilis encontrado na África, há 2,5 milhões de anos, possuía cérebro com capacidade inferior a do Homo erectus.
Quanto aos artefatos, os achados se restringem a instrumentos como “choppers”, raspadores e outros objetos cortantes. Apesar de o Homo habilis possuir crânio pequeno, Philip Rightmire, da Universidade de Binghamon, justificando sua longa migração, considera que o tamanho do cérebro não é tão importante quanto a proporção entre a matéria cinzenta e o resto do corpo. Essa proposição, no entanto, não é consenso entre os paleontólogos.
Em princípio, na África, o Homo erectus era alto (até 1,80 m), possuía cérebro grande e pernas longas. Já o Homo habilis tinha pernas curtas e braços longos.
O Homo erectus possuía bifaces com os quais deveria caçar os animais que lhe garantiriam uma dieta rica em gordura. O Homo habilis, ainda segundo os autores citados, tanto da África como os de Dmanisi usavam “choppers” e raspadores para descarnar pedaços da carcaça e extrair o tutano dos ossos.
Já houve, no passado, estudiosos que consideraram todas as espécies de hominídeos anteriores ao sapiens como erectus. Hoje, há quem pretenda considerar tudo o que veio anteriormente ao sapiens como habilis. Não há dúvida de que o Homo habilis possuía crânio de certa forma semelhante ao do sapiens, embora seu cérebro não chegasse ao tamanho daquele do ser humano atual. Já o Homo erectus asiático era mais pesado e robusto que o da África. Além disso, não se pode deixar de frisar que os erectus asiáticos não apresentavam a mesma recorrência de artefatos.
Os achados da Geórgia, comandados por David Lordkipanidze, vinculado ao Museu Estadual da Geórgia, em Tbilis, são considerados por uns como sendo do Homo erectus e por outros como do Homo habilis. O fato é que há uma enorme diversidade de espécimens em Dmanisi. Um exemplo é o achado de partes de seis indivíduos em uma mesma camada, entre elas uma enorme mandíbula.
Acreditamos que para resolver essa dicotomia – erectus versus habilis – os pesquisadores deveriam ter radiografado a mandíbula para confirmar se o fóssil exibiria o molar com raiz divergente próprio do erectus. Também foram achados ossos de animais de espécies africanas como a girafa de pescoço curto e o avestruz além de espécies euro-asiáticas como o cervo, o cavalo, o megatério, o tigre-de-dentes-de-sabre, o lobo e a hiena.
3. A ocupação do Continente Sul-Americano
Saindo da África e se espalhando pela Eurásia, o Homo erectus ou habilis poderia ter entrado na América. A discussão que se coloca é se há provas de que ele ocupou o continente americano.
Infelizmente, para nós, não há fósseis de esqueletos que nos sirvam como prova. Em conseqüência, temos que nos valer dos dados arqueológicos (artefatos e estruturas), dos dados geológicos e, ocasionalmente, de datações para entender e interpretar esses achados.
Sabemos que o artefato típico do Homo habilis é o “chopper”. Mas, também sabemos que os primeiros Homo erectus fabricavam esse tipo de instrumento, embora os bifaces sejam considerados como o instrumento típico desses indivíduos.
Quanto aos “chopper” podemos dizer que os de tamanho pequeno são típicos do Homo habilis – cabem na palma da mão. Em geral são feitos a partir de seixos rolados e apareceram há 2,5 milhões de anos. Na África, e em outras partes do mundo, podem reaparecer, mas não guardam as mesmas características dos antigos: são “choppers” muito maior.
No Brasil, Beltrão registrou “choppers” do tipo africano, isto é, artefatos que apresentam as mesmas características tecnológicas daqueles encontrados e datados em mais de um milhão de anos, portanto antigos, em três lugares distintos: Campos do Jordão, SP, na Toca da Esperança, BA e em Itaboraí, RJ.
Em Campos do Jordão foram-lhe mostrados alguns exemplares, que de acordo com a informação prestada à época, teriam sido coletados junto a ossos de mastodontes em uma depressão quando da construção de um dos hotéis, há muitas dezenas de anos atrás.
Na Toca da Esperança, na Bahia, Beltrão registrou um “chopper” do tipo africano no chão da Camada IV da gruta. Mais que isso, obteve várias datações para a Toca pelo método do urânio-tório, havendo consenso quanto à data mínima de 300 mil anos para o “chopper” encontrado (Beltrão & Danon, 1987 e Lumley et ali, 1987 e 1988). Esse método absoluto, no entanto, possui um limite de alcance, ou seja, só data até 300 mil anos.        
Em suma, para explicar o povoamento da América há três proposições. A primeira, que entende a ocupação do continente dentro de um esquema básico que estabelece que a penetração teria se dado linearmente, do noroeste ao sudoeste, a partir da Beringia até a Terra do Fogo, contornando a enorme capa de gelo continental que cobriu boa parte do Canadá ocidental e setentrional e negando a presença do homem na América do Norte antes de 20.000 anos A.P. (antes do presente) e antes de 15.000 anos A.P. na América do Sul.
  A segunda admite um povoamento inicial para a América em torno do início do glacial Würm/Wisconsin, ou seja, há 125.000 anos A.P., que teria se deslocado lentamente em direção sul no Continente Norte Americano por um corredor livre de gelo a oeste do Canadá. Para ocupar a América do Sul, os povoadores teriam passado, esporadicamente, em épocas de maior aridez, e conseqüentemente de recuo da selva, pelo istmo do Panamá, em torno de 40.000 anos A.P., dividindo-se, principalmente, para os planaltos centrais e o SW da América do Sul.
Finalmente a terceira e última hipótese considera que o primeiro povoamento americano se deu há mais de 300.000 anos A.P., época do penúltimo ciclo glacial pleistocênico, Illinois que corresponde, na Europa, ao glacial Riss. Assim, há 400.000 anos ou mais, o Homo erectus, na sua variante asiática, portando uma indústria de seixos e lascas, avançou para o nordeste da Ásia (Cho-ku-tien, Miao-hou-shan). Uma datação de 300.000 anos, obtida por Termoluminescência, para a Sibéria, parece, reforçar essa entrada precoce do homem. Já, a essa época, ele estava perfeitamente adaptado às condições ambientais da Sibéria. Sendo caçadores e seguindo a fauna teriam penetrado na América.
4. O caso Itaboraí
4.1. O contexto geológico
O sítio de Itaboraí integra um conjunto de sítios da Região Arqueológica de Manguinhos. Esses sítios são, de modo geral, formados por uma sucessão de camadas quaternárias que repousam sobre sedimentos do Neocenozóico (Formação Macacu) ou sobre o embasamento Pré-Cambriano. Sua estratigrafia é composta por camadas areno-argilosas e cascalheiras (depósitos de cascalho). No topo da encosta, o perfil estratigráfico estudado abrange 7 m de profundidade por 600 m de extensão, mostrando cascalheiras e camadas intermediárias contendo artefatos.
Mais precisamente tem-se, considerando de baixo para cima: a) a Formação Macacu, de idade neocenozóica; b) a Cascalheira Inferior, terraço descontínuo de cascalho onde se encontram os artefatos; c) colúvio vermelho, camada argilo-arenosa na parte mais alta do Morro da Dinamite, que pode ser subdividida ou não em Colúvio Vermelho I (inferior) e Colúvio Vermelho II (superior); d) a Cascalheira Superior, terraço e seixos bastante contínuos. Separa o Colúvio Vermelho do Colúvio Amarelo, podendo também estar presente entre os dois colúvios vermelhos; e) o colúvio Amarelo, camada argilo-arenosa que, como o Colúvio Vermelho, pode ser subdividido em Colúvio Amarelo Inferior e Colúvio Amarelo Superior. Todas as camadas de colúvio e as cascalheiras contêm artefatos.
        No caso particular do Sítio de Itaboraí os processos sedimentares foram mais atuantes e o paleo-declive acentuado provocou o deslocamento das camadas para os bordos do Morro, retendo, no cume das elevações, apenas umas poucas camadas. Por essa razão, o perfil que nos bordos da depressão é mais profundo, apresenta cascalheiras em muito maior número. Assim, embora o homem pré-histórico tenha habitado o topo, é nos bordos que se poderá melhor avaliar a evolução tecnológica da indústria lítica (única presente no sítio). Tanto as camadas coluviais quanto as linhas de seixos (cascalheiras) possuem artefatos.
        Vale observar que, por se tratar de rampa de colúvio, a interligação artefato-estratigrafia é muito complexa. Assim, por exemplo, na parte principal do Sítio de Itaboraí - Morro da Dinamite - as camadas podem ser mais recentes do que os artefatos nelas contidos. Além disso, os processos sedimentares que atuaram na formação das rampas de colúvio de Itaboraí fizeram com que fossem depositados em uma mesma camada artefatos de Tradições diferentes.
As cascalheiras de Itaboraí liberaram exemplares de megafauna pleistocênica (Price & Campos, 1970) de modo geral fragmentados e friáveis; entretanto, foram encontrados dentes completos de mastodontes (+ Haplomastodon waringi (Holland, 1920)) e um grande fêmur completo de preguiça gigante (+Eremotherium laurillardii (Lund,1841)). Esses animais indicam idade pleistocênica para o depósito.

4.2 Os sítios arqueológicos de Itaboraí
Vários setores apresentando vestígios arqueológicos foram encontrados nos bordos da depressão. É o caso daquele próximo a área correspondente a um significativo derrame de larva datado em 52 milhões de anos. São importantes registros da presença humana preservados em uma das bacias sedimentares mais importantes do Estado do Rio de Janeiro - a bacia sedimentar de São José de Itaboraí. Esta bacia teve sua origem no início do Terciário (Paleoceno) como resultado das atividades tecto-magmáticas que atingiram a região desde o Período Cretáceo.
As evidências de vida ai encontradas correspondem ao período que sucedeu ao da extinção dos dinossauros. Fósseis de um mamífero xenungulado, provavelmente o mais velho da América do Sul, com idade que alcança cerca de 65 milhões de anos, foram ai encontrados. Além deste, vários outros fósseis foram, também, recuperados, inclusive exemplares que datam do pleistoceno (+Eremotherium, +Haplomastodon e o +Testuto sp.).
A presença humana na região data, mais ou menos, desta mesma época. Tal afirmação se apóia nesses diversos achados arqueológicos identificados nas superfícies colinosas, em encostas relativamente íngremes, associadas à morfologia de “rampas”. Foram as descoberta dos fósseis pleistocênicos, em 1969, nas camadas conglomeráticas existentes ao sul da bacia calcária, que ensejaram uma série de prospecções arqueológicas (1974), levando à descoberta desse importante sítio arqueológico. As escavações foram iniciadas apenas em 1979, tornando-se sistemáticas a partir de 1981.
Na bacia há, efetivamente, pelo menos quatro setores de significativa ocorrência arqueológica. O primeiro se encontra no bordo leste, denominado Morro da Dinamite. O segundo situa-se no bordo norte, nomeado Sítio do Sílex. O terceiro, no bordo sul, foi chamado de Sítio Paleontológico e, finalmente o quarto, Morro Verde, localizado, também, no bordo norte.
O sítio arqueológico de Itaboraí, descoberto por Beltrão em 1970, pode ser considerado um sítio litorâneo localizado estrategicamente em uma elevação, demonstrando que o homem pré-histórico evitava o confronto, nas planícies, com a megafauna pleistocênica em uma região onde as grutas são raras.
A parte principal do sítio está situada sobre uma colina de 110 m de altitude (Morro da Dinamite) no bordo da Bacia Calcária de São José de Itaboraí, constituindo-se em um depósito coluvial com uma espessura de cerca de 12 m.
        A escavação conduzida no alto do Morro da Dinamite revelou uma fogueira arqueológica acompanhada de artefatos líticos na parte mais alta da camada superior que, datada pelo método do C14, forneceu uma idade de 8.100 ±75 anos (Beltrão, Danon, Teles, 1982).
Entre a formação neocenozóica Macacu e a fogueira datada de 8.100 anos A.P., dentro do conjunto do depósito de 12 m, foram encontrados vários níveis que apresentam blocos trabalhados misturados com outros blocos naturais, sobretudo blocos de quartzo. Também foram achados instrumentos de sílex, principalmente no bordo norte da bacia (Sítio do Sílex) e no bordo sul (Sítio Paleontológico), próximo do local onde foram encontrados os fósseis pleistocênicos.
A coleção lítica decorrente dos trabalhos de campo realizados compreende cerca de 1.000 peças. Esse conjunto reúne peças do Sítio do Sílex (1979), do Morro Verde (1984), do Morro da Dinamite ou Morro Alto (em dois setores distintos: no topo e na face oeste da colina – Paredão da Cascalheira) (1979, 1980, 1981, 1982, 1983, 1984, 1986) e do Sítio Paleontológico (1983).
Os dados geológicos e arqueológicos disponíveis para o sítio de Itaboraí sugerem o registro de uma ocupação muito antiga, anterior ao Wisconsin, podendo alcançar, pelo menos, o Pleistoceno Médio, talvez o Pleistoceno Inferior.
Por essa razão, Beltrão e colaboradores vêem buscando proceder a revisão crítica da ocupação humana na América assim como dos conceitos sobre o nível de desenvolvimento cultural do homem sul-americano, especialmente do brasileiro. Têm  igualmente apontado para a urgente necessidade de se estudar sítios arqueológicos situados em rampas de colúvio apesar de sua complexidade, além do aprofundamento do trabalho transdisciplinar.
Por outro lado, a intensificação das pesquisas é de grande importância na medida em que os dados que vierem a ser obtidos fornecerão melhor leitura dos eventos geológicos ocorridos no Cenozóico.
Esses estudos assumem primordial importância tendo em vista as características especiais da bacia de São José que guarda uma fauna cenozóica única concentrada em uma pequena área, tornando-se referencia obrigatória para toda e qualquer interpretação da Geohistória do Cenozóico Regional e mesmo Continental principalmente no que diz respeito à evolução da fauna de mamíferos.

5. Cronologia
Há artefatos em Itaboraí que apresentam pátina brilhante e amarelada enquanto outros, pátina incolor e escorregadia. Preferiu-se fazer uma distinção entre as pátinas, que recobrem os artefatos, e as manchas climáticas, depositadas na superfície destes, embora ambas possam servir como indicadores cronológicos.
A pátina propriamente dita recobre toda a superfície dos artefatos e não desaparece quando é lavado. As manchas climáticas ficam restritas a algumas partes da superfície dos artefatos e de modo geral tendem a sair quando lavadas. Algumas manchas climáticas têm sua origem, ao que parece, nos sedimentos que sofreram precipitações pelos óxidos de ferro. (Beltrão et al., 1982).
        Segundo Maria R. Mousinho de Meis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, depois de quinze anos de estudos, concordou que as manchas climáticas de Itaboraí eram muito antigas. Segundo sua avaliação essas manchas climáticas foram depositadas sobre os artefatos no Pleistoceno Médio. Sugeriu então uma avaliação, à guisa de confirmação, a partir do grau de maturidade dos sedimentos. As duas técnicas utilizadas apontaram para a possibilidade de idades ainda mais recuadas, provavelmente situadas na faixa cronológica correspondente ao Pleistoceno Inferior.
        As mais antigas manchas climáticas, a julgar pela posição estratigráfica,  pareciam ser as da cascalheira inferior, o que não se confirmou pelas técnicas empregadas para avaliação da maturidade dos sedimentos. São de cor vinho e, nos artefatos de quartzo sub-hialino, aparecem sobre uma pátina acinzentada parcialmente brilhante, parcialmente opaca. Nos artefatos de sílex a pátina é opaca. Há casos em que os sedimentos da camada vermelha, de aspecto mosqueado, (Formação Macacu - idade Neocenozóica) aparecem grudados em pequenas porções da superfície dos artefatos da cascalheira inferior.
        Os artefatos de quartzo sub-hialino da camada vermelha, quaternária, apresentam-se manchados de vermelho por toda a superfície, embora não uniformemente. São, igualmente, muito antigos, embora não tanto quanto os artefatos de quartzo sub-leitoso ou sub-sacaroidal da camada castanho-amarelada.

Neste caso, a mancha climática se confunde com a pátina propriamente dita. Em razão da exposição dos artefatos aos sedimentos por um período muito longo, a mancha climática vermelha, transformada em pátina, não desaparece mesmo quando lavada e penetra nas micro-fraturas existentes na superfície dos artefatos. A julgar pelas mencionadas técnicas indicativas de maturidade dos sedimentos e pela análise tipológica, os artefatos com manchas climáticas amarelo-alaranjadas, que provêm do colúvio castanho-amarelado, são mais antigos que os do colúvio vermelho. (Fig.2)
        A utilização das manchas climáticas como método de datação relativa, conjugada às técnicas indicativas de maturidade dos sedimentos, apresentam as seguintes vantagens:
1º.) poderão ser usadas por geólogos e arqueólogos na determinação relativa de idades;
2o.) artefatos muito simples, como “choppers” e lascas unifaciais resultantes de percussão violenta que caracterizam as ocupações mais antigas da humanidade, podem ocorrer, eventualmente, em faixas cronológicas muito recentes. As manchas climáticas indicariam as ocupações mais antigas.
3o.) em períodos mais recuados as transformações tipológicas são menos marcantes tornando-se difícil, por exemplo, reconhecer se um artefato é do Pleistoceno Inferior ou do Pleistoceno Médio ou ainda dentro do Pleistoceno Médio quais seriam os mais antigos. As manchas climáticas parecem indicar que, dentro do Pleistoceno Médio, os artefatos antigos foram tingidos de amarelo-alaranjado (ou seria Pleistoceno Inferior?).
        Todas as pesquisas já realizadas no Sítio de Itaboraí apontam para a necessidade de se continuar com os estudos litoestratigráficos em escala pontual (na escala de estudo do sítio), o mesmo se verificando para os estudos em escala regional, em uma tentativa de estabelecer correlações com outras colunas litoestratigráficas já definidas para a região. Esses estudos litoestratigráficos em diferentes escalas podem ser aliados a outros métodos de cronologia relativa, tais como o paleomagnetismo, na medida em que ainda prossegue a indisponibilidade de material que permita datações de uma forma absoluta. Esta é uma etapa de trabalho que poderia ser levada a termo o mais breve possível, de forma tentativa, na área já estudada e para a qual já se dispõe de uma boa quantidade de dados.
Por outro lado, outras providências podem se mostrar convenientes para a obtenção de respostas satisfatórias às interrogações que se apresentaram durante este estudo do material arqueológico do Sítio de Itaboraí. Evidentemente, uma será a continuação dos trabalhos prospectivos de campo, com o fim de descobrir outras áreas ou sítios arqueológicos em Itaboraí e suas vizinhanças. Neste caso, o aumento da quantidade de material arqueológico a ser analisado levaria a um crescimento proporcional de conclusões.
        A continuação dos estudos da indústria de cada sítio, associada aos estudos litoestratigráficos permitirá integrar o conhecimento arqueológico presente sobre o Sítio de Itaboraí a um quadro mais compreensível, englobando as informações cronológicas, geomorfológicas e mesmo dentro de uma perspectiva mais extensa, antropológicas.
6. Conclusões
        A árvore genealógica da espécie humana está longe de ser delineada com propriedade. Novos achados causam turbulência no mundo científico.
        O que parece certo é que o homem seguiu a caça que há centenas de milhares de anos atravessou Bering nos dois sentidos.
        Sítios sul-americanos em grutas seladas pela marga podem ser muito antigos (Pleistoceno médio), como no caso da Toca da Esperança. Igualmente antigos podem ser aqueles sítios localizados próximo aos lugares onde em épocas pretéritas houve erupções vulcânicas ou atividades de derrame como no caso de São José de Itaboraí.
        Desconhecemos que exista em algum outro lugar do mundo um sítio como o de Itaboraí: a) profundidade de varais dezenas de metros contendo a partir da base artefatos do tipo “chopper”, de lasca ou de seixo rolado evoluindo da base à superfície com uma tecnologia encontrada em outras partes do mundo mas em sítios espaçados; b) bifaces, machado sobre lasca, grandes raspadores, facas com dorso, lascas pré-Levallois, lascas de fácies Levallois, perfuradores, raspadores, facas, buris; c) núcleos volumosos a partir de blocos, núcleos cônicos, núcleos piramidais, núcleos piramidais truncados, núcleos tabulares, núcleos bipiramidais, núcleos poliédricos e núcleos esferóides.
        Em nossa opinião a ocupação humana em Itaboraí data de, pelo menos do Pleistoceno Médio, podendo alcançar o Pleistoceno Inferior.




7. Bibliografia

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------------ Sítios Arqueológicos Pleistocênicos no Brasil. Rio de Janeiro: Revista Carta Mensal. Confederação Nacional do Comércio, 1991. vol. 36 no. 432: 19-31.

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