terça-feira, 30 de agosto de 2011

As formas de entender o destino ...


O NASCIMENTO DO SISTEMA DE ADIVINHAÇÃO DE IFÁ
Sem dúvida, o sistema religioso Yorùbá é muito interessante e extenso em tópicos a se aprender. Dentre esses, o mais interessante, importante e mais difícil é o sistema de adivinhação de Ifá, e é sobre isto que vamos falar hoje. Segundo o escritor Wande Abimbola, no livro "Os Dezesseis grandes poemas de Ifá", esse sistema nasceu do seguinte fato:
A história começa na época em Ifè, quando Òrúnmìlà não tinha filhos e seus inimigos gabavam-se de que "O Pai jamais teria filhos nesta cidade de Ifè". Mas, seus inimigos provaram que estavam errados porque Òrúnmìlà mais tarde teve oito filhos. E  todos os oito tornaram-se importantes reis em várias partes da terra Yorùbá.
O primeiro filho nascido foi coroado como Alárá (rei de Àrá); o segundo foi instalado como Ajerò (rei de Ìjerò); e o último deles a nascer tornou-se o Olówò (rei de uma importante cidade Yorùbá chamada Òwó.
Durante uma importante ocasião, quando Òrúnmìlà estava celebrando um ritual, Ele chamou seus oito filhos, que tinham se tornado todos notáveis chefes de seus próprios domínios. Quase todos eles responderam e prestaram obediência ao Pai, saudando-o com as palavras: "Aboru, bòyè bò síse"(Que possam os rituais e oferendas serem aceitos). Mas, Olówò, o último nascido de todos eles, recusou-se a saudar seu Pai. Além do mais, ele estava vestido exatamente do mesmo modo, como as vestes de Òrúnmìlà, numa ação que simbolizava a rejeição à autoridade de seu Pai e sua superioridade. Enquanto que, seus sete irmãos mais velhos saudaram antes seu Pai, ele recusou-se a saudar e ficou ereto. Seu Pai mandou-o dizer a saudação, como seus irmãos, mas, ele recusou-se e disse:
"Você Òrúnmìlà, envolveu-se com aso odún (roupas de festa).
Eu Olówò, envolvi-me com roupas de festa.
Você Òrúnmìlà, leva o òsùn, o cajado feito de latão.
Eu Olówò, levo o òsùn, o cajado feito de latão.
Você Òrúnmìlà, usa um par de sandálias de latão.
Eu Olówò, uso um par de sandálias de latão.
Você Òrúnmìlà, usa uma coroa,
Eu Olówò, também uso uma coroa.
E usualmente é dito que: ninguém que usa uma coroa Baixa a cabeça para saudar uma outra pessoa."
O resultado destas ásperas palavras, denotando total rejeição à autoridade de Òrúnmìlà sobre seus próprios filhos, foi que o deixou enfurecido, e Ele arrebatou o òsùn, o cajado de Olówò. Esta ação simbolizava a apreensão da autoridade de Olówò, cajado que é usado somente por sacerdotes altamente graduados, como um símbolo de sua autoridade e superioridade. A apreensão do de Olówò, portanto, representou a retirada da autoridade que Òrúnmìlà tinha dado aos seus filhos como importantes sacerdotes. Mas, a reação de Òrúnmìlà à tola ação de Olówò não pára por aí. A desobediência filial causou o retorno final de Òrúnmìlà para o Òrun, onde Ele assentou sua tenda aos pés de uma palmeira muito alta, que se esgalhava por aqui e por ali e que tinha dezesseis choupanas como topo (dezesseis grandes folhas).
A conseqüência para a Terra foi a fome, epidemias, caos e confusão. Isto não era surpresa para Òrúnmìlà, que representava o princípio da ordem, sabedoria, autoridade, fertilidade e continuidade. A chuva parou imediatamente de cair. O ciclo de fertilidade tanto das plantas quanto dos animais foi interrompido, ameaçando o homem e seus empreendimentos de total extinção.
Os habitantes da jovem terra viram-se frente a frente com a catástrofe e a extinção, e clamavam a volta de Òrúnmìlà. Eles pediram aos seus filhos que fossem rogar ao seu Pai para que retornasse à Terra, para que assim a paz, ordem e a continuidade pudessem ser restauradas.
Quando os filhos de Òrúnmìlà chegaram ao Òrun (naquela época, na mitologia Yorubana, não existia uma completa separação entre o céu e a terra), eles imploraram ao seu Pai que retornasse para a Terra. Eles cantaram seus nomes de louvores e insistiram para que Ele voltasse com eles para casa. Mas, seu Pai embotado, recusou-se a seguí-los, então:
"Ele mandou-os estenderem suas mãos para adiante,
E Ele lhes deu dezesseis nozes sagradas da adivinhação de Ifá.
E disse: "Quando vocês chegarem em casa,
Se vocês desejarem ter dinheiro,
Esta é a pessoa a quem vocês terão de consultar...
Se vocês desejarem esposas,
Esta é a pessoa a quem vocês consultarão...
Se vocês desejarem ter filhos,
Esta é a pessoa a quem vocês consultarão..."
Assim Òrúnmìlà restaurou-se e a sua autoridade com as dezesseis nozes sagradas da adivinhação de Ifá, conhecidas como Ikin. Quando estava na Terra, Òrúnmìlà tinha direta ligação entre o Òrun (céu) e o Ayé (terra). Com seu retorno final para o Òrun e o nascimento das dezesseis nozes sagradas, nenhum intermediário mais existiu no processo de comunicação com o Òrun; teriam de ir às dezesseis nozes sagradas antes deles alcançarem os poderes celestes. Assim, o sistema geomântico de Ifá, baseado numa elaborada parafernália de adivinhação e um complexo corpo literário, nasceu. Embora, Òrúnmìlà, como muitas outras divindades Yorùbá, finalmente tenha retornado para o céu, Ele legou aos seus discípulos um sistema através do qual o povo Yorùbá acredita, que os desejos de Olódùmarè e das outras divindades podem ser verificados.
A história completa pode ser lida no livro "SIXTEEN GREAT POEMS OF IFA", de Wande Abimbola.

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