terça-feira, 28 de setembro de 2010

A. Leterre



Tive contato pela primeira vez com este renomado autor lá pelo idos de 1980, ao descobrir as obras de Saint Yves de Alveydre. Naqueles anos passei a procurar as obras do Marquês de Alveydre incessantemente em todos os sebos da capital paulistana. Eu sabia que teria muita dificuldade, pois, alem de ser obras raras eram caríssimas.
A primeira vez que me deparei com o Arqueometro foi na antiga Casa Fretin no centro de São Paulo, a Fretin era uma casa importadora de livros técnicos, instrumental cirúrgico e livros ocultistas, e cobrava todos seus produtos em dólar ou libra e naquela época eu era apenas um moço com parco salário, que só podia ficar admirando aquele livro em francês e que tinha o planisfério astro silábico no sua capa de papel que envolvia a encardenação de capa dura, e que durante muito tempo não pude ter.
Mas existia uma alternativa de conhecer um pouco mais as obras do Marques, era conseguir a obra de A. Leterre que chamava: Jesus e sua doutrina (1936).
O primeiro exemplar de Jesus e sua doutrina, foi conseguido através de um irmão nosso de santo     de nome Antonio Rivas que de forma curiosa conseguiu gerar uma cópia da Biblioteca de São Paulo.
Este livro foi citado exaustivamente pelo mestre W.W. da Mata e Silva  em suas obras, e assim pude conhecer um pouco mais do homem que trouxe os livros do Marquês para o Brasil.




No final do seu livro Jesus e sua doutrina, Leterre cita que tinha deixado todos os seu livros para a Federação Espírita Brasileira no Rio de Janeiro, inclusive uma tradução feita a mão por ele da Missão dos Judeus e Missão da Índia na Europa em papel almaço, sim aquele papel que todos nós usávamos quando meninos.





Passou o tempo, e em 1998 eu dirigia o Templo da Ordem Iniciatica do Cruzeiro Divino em Brasília. Ao  reler o livro de Leterre, tive a idéia de ligar para a FEB que já se estabelecia na capital federal e obtive a informação que todos as obras raras estavam agora em Brasília.

Imediatamente consultei a lista telefônica e liguei. A recepcionista em conversa comigo, informou que o diretor responsável estava em férias e não poderia falar com ele. Mas mesmo assim insisti pois voltaria para São Paulo por aqueles dias e era importante o contato. A moça reconhecendo que eu tinha necessidade em falar com o diretor me passou o telefone  particular dele, ao falar-lhe expliquei que procurava as obras que citei acima, inclusive o aparelho arqueometrico que Leterre citava no final de seu livro, como aquele que tinha trazido da França e doado a FEB.
Apesar de estar em férias, aquiesceu e nos encontramos em um domingo a tarde na FEB e pude conhecer a biblioteca de obras raras e que não estava aberto ao público.
Quando o diretor chegou, trazia consigo uma caixa de madeira e que ao abrir para mostrar-me, imediamente me perguntou se eu sabia o que era aquilo, e para meu doce regalo lá estava uns dos aparelhos construído pelo Marques e que Leterre trouxe ao Brasil.
O diretor informou que o aparelho ia fazer parte do museu da FEB, e se eu poderia escrever uma sinopse sobre o mesmo, assim combinamos que eu o faria se pudesse copiar alguns livros raros que estavam com ele e prontamente ele aceitou.
Mas não tinha acabado minha procura, pois queria os manuscritos de Leterre e estes o próprio diretor desconhecia, mostrou-me toda a biblioteca e uma serie de papeis que estavam para ser catalogados e reclamava de não ter pessoal para fazê-lo.
Naquele dia, tinha levado dois integrantes do templo de Brasília ( Leila e Guilherme) comigo. Combinamos que eles ajudariam o diretor todos os domingos, e assim foi feito, através do trabalho árduo destes dois filhos espirituais a época conseguimos acesso a estes materiais raros.
Interessante que todos falavam de Leterre e não citavam seu primeiro nome, escreviam apenas A. Leterrre , e foi em uns dos livros do Marques que Leterre escreveu na lateral de uma das páginas, algumas letras do alfabeto Wattan e que ao traduzi-las pudemos saber o seu nome completo: Aristides Leterre.

Aristides  Leterre era um renomado fotografo no Rio de Janeiro e que produzia fotos de operações cirúrgicas e trabalhos especializados para o governo, falava francês fluentemente e também tinha dotes musicais, esteve na França algumas vezes e pode desfrutar da atmosfera dos grandes mestres da época.

E foi assim meus amigos que tivemos a oportunidade em conhecer mais o trabalho deste autor.

Espero que aqueles que editam suas obras, sem a preocupação em descrever sua vida ou citar seu nome inteiro  façam-no a partir de agora.

O respeito com aqueles que favoreceram o conhecimento integral deve existir em todos os momentos, afinal os historiadores que prefaciam suas obras deveriam por ética ou apenas por questão de bom senso, elucidar seus leitores sobre quão grandioso é a missão de levar a Tradição a todos, e não ter apenas por escopo a aquisição financeira, mas...

Olavo Solera - Ygbere

Estas são as obras trazias por Leterre:






quarta-feira, 22 de setembro de 2010

René Guénon







René Guénon nasceu em Blois, no famoso Vale do Loire, na França dos castelos de contos de fadas, e morou e estudou por vários anos no Quartier Latin – centro da agitação cultural parisiense. Mas foi no Oriente que ele encontrou inspiração e suporte intelectual para sua vasta obra (27 livros ),especialmente na filosofia do Vedanta da Índia, na sabedoria chinesa e no sufismo, cujos princípios universais ele tratou de reelaborar em estilo acessível aos ocidentais. Ele foi, assim, o mais oriental dos filósofos europeus no século XX; tão oriental, de fato, que viveu com a família seus últimos 20 anos no Cairo.

René Guénon foi o mentor do método ‘universalista’ de estudo dos legados intelectuais das diferentes civilizações, tendo sido um dos primeiros a apontar para a solidariedade substancial dos patrimônios culturais das distintas tradições e para seus fundamentos filosóficos comuns, por trás das diferenças de doutrinas, ritos, moralidades e formas artísticas. Ao mesmo tempo, foi um crítico severo do exclusivismo religioso e de todo ‘comunalismo’ e fundamentalismo extremista. Foi também um pioneiro da crítica da mentalidade materialista e individualista de nossos tempos. Para ele, o moderno Ocidente vive em profunda crise de valores e de sentido porque se separou de suas raízes espirituais e esqueceu as dimensões mais profundas da existência. Guénon foi, ainda, incomparável na exposição e explicação dos símbolos e mitos nas diversas culturas. Seu livro Símbolos da Ciência Sagrada (S. Paulo, Pensamento, 1993) é uma prova disso.

Nas primeiras décadas do século XX – quando começou a publicar seus livros e artigos – ele por assim dizer se ergueu, praticamente sozinho, para expor com precisão ‘matemática’ as contradições do mundo e da mentalidade de então. Mundo o qual a grande maioria dos homens acreditava ter um futuro róseo e radiante, cegados que estavam pelo encanto do ‘culto’ da ciência e da tecnologia, que a todos os problemas, afinal, resolveria. O pensamento quase unânime de então era que tudo ia se tornar cada vez melhor, graças ao progresso da técnica, e que o homem finalmente estava se encaminhando para o paraíso.

Como um João Batista do século XX, ele foi a voz que clamava no deserto do racionalismo europeu. Como um Atanásio, lutou sozinho contra os erros e as ilusões de uma mentalidade que ele considerava materialista, relativista e racionalista. Racionalista por crer na razão individual como a única fonte e como a única legitimadora de toda forma de conhecimento. Materialista por crer, do mesmo modo, que só a matéria, o que pode ser pesado, mensurado e tocado, é real; que por não poder ser quantificado, o espírito não é real. Relativista por negar o conceito do Absoluto, seja no campo filosófico, religioso, ou mesmo ético, moral e social; por pretender relativizar tudo que é objetivo, tornando , portanto, tudo subjetivo e instável.
Guénon surgiu como um autor singular por tratar destas profundas questões de uma perspectiva puramente intelectual e objetiva; em seus escritos, as dimensões moral e sentimental, a despeito de seu valor, não constituem o principal vetor, que é, ao contrário, representado pela inteligência e o discernimento.

A despeito de sua importância e do impacto causado pela força de suas idéias, os biógrafos de Guénon ressentem-se da carência de informações acerca de sua vida pessoal. Pois o autor francês sempre foi extremamente reservado e não tinha o menor interesse pela individualidade, nem a sua, nem a de outros. Característica esta diametralmente oposta ao de nossos dias, nos quais a curiosidade ilimitada das pessoas e o furor dos meios de comunicação de massa em saciá-la colocam as informações mais reservadas e privadas de determinado indivíduo praticamente ao alcance de todos. Guénon considerava-se apenas um transmissor da sabedoria perene, e não reivindicava em absoluto qualquer ‘originalidade’ . Ele fazia tanta questão do anonimato que um leitor de seus livros – que era seu vizinho no Cairo – ficou perplexo ao descobrir, quando de sua morte, que a pessoa em questão era ninguém menos que o famoso René Guénon!

O que se sabe da vida do indivíduo é, assim, inversamente proporcional à profundidade e influência de sua obra; quanto a este último ponto, basta dizer que ao longo da última década dezenas de livros foram publicados sobre ele e também que, se consultarmos um desses buscadores eletrônicos na Internet, como o Google, por exemplo, centenas de páginas aparecerão ao digitarmos o nome de Guénon. Seja como for, sabemos ao certo que René-Jean Marie Joseph Guénon nasceu em Blois, no Vale do Loire, na França, em 15 de novembro de 1886. Seu pai, Jean-Baptiste Guénon, era arquiteto; sua mãe, Anna-Leontine Jolly, dona de casa; ambos católicos piedosos, deram ao filho uma educação religiosa tradicional. (Isto, contudo, não impediu que ele manifestasse certa incompreensão acerca de alguns aspectos da perspectiva cristã, assunto que discutiremos mais adiante.)

Profundamente interessado por filosofia e matemática desde a juventude, Guénon mudou-se para Paris em 1904, aos 18 anos de idade, para prosseguir seus estudos no Collège Rollin.
Na capital francesa, envolveu-se com o movimento ocultista que então agitava parcela do mundo intelectual e artístico parisiense. Foi, por exemplo, admitido numa ‘ordem martinista’, a qual seria um suposto ramo da ‘cavalaria cristã’, e também na ‘Fraternidade Hermética de Luxor’, bem como em algumas obediências maçônicas e na ‘Igreja Gnóstica’. Chegou mesmo a assumir posições de destaque nessas organizações, algo que lhe propiciou informações preciosas para a sua posterior e radicalmente crítica postura anti-ocultista. Sua intensa participação nessas sociedades foi, neste sentido, providencial. Rompeu com o ocultismo, considerando-o uma contrafação, desprovida de qualquer ensinamento sério: “O equívoco da maior parte dessas doutrinas pseudo-espiritualistas é o de ser não mais do que materialismo transposto a outro plano, e de querer aplicar ao patrimônio do espírito os métodos que a ciência ordinária emprega para o estudo do mundo material”, ele escreveu em dezembro de 1909.

Sobre o ocultismo em geral, escreveu livros como L'Erreur Spirite, publicado originalmente em Paris em 1923, e Le Théosophisme - Histoire d'une pseudo-religion, de 1921, obras que não perderam sua relevância e que continuam sendo publicadas, lidas e debatidas. Desnecessário dizer que, por causa delas, granjeou visceral oposição de parte do submundo ocultista em geral. A este respeito, é interessante reproduzir aqui o que Mircea Eliade escreveu:

“A crítica mais erudita e devastadora de todos esses assim chamados grupos ocultistas foi feita, não por um observador externo racionalista, ‘de fora’, mas por um membro do círculo interno, alguém devidamente iniciado em algumas de suas ordens secretas e familiarizado com suas doutrinas ocultas; ademais, esta crítica foi feita, não a partir de uma perspectiva cética ou positivista, mas a partir do que ele chamou ‘esoterismo tradicional’. Este crítico culto e inteligente foi René Guénon.” (Ocultismo, Bruxaria e Correntes Culturais. Belo Horizonte, Interlivros, 1979. p. 59.)

Nesta mesma época, nas primeiras décadas do século XX, Guénon entrou em contato com hindus da escola Advaita-Vedanta, com quem aprofundou seus conhecimentos da metafísica não-dualista de Shankara – o principal formulador desta doutrina –, os quais utilizaria em toda a sua obra subseqüente. Vem daí também seus contatos com o meio católico francês, no qual pontificavam figuras como o filósofo neo-tomista Jacques Maritain e o padre Sertillanges, entre outros.


Guénon passou a escrever então, década de 1920, para a revista católica Regnabit. Contudo, a reivindicação para a Igreja, por parte de alguns desses intelectuais, da posse exclusiva da verdade, forçou Guénon – em razão de sua postura ‘universalista’ e não exclusivista – a deixar seu quadro de colaboradores. Alguns mais exaltados, não contentes com isto, chegaram a levar ao Vaticano um pedido para incluir seus livros no famoso Index. Mas o papa de então, Pio XI (1922-1939), bem como seu sucessor, Pio XII (1939-1958), negaram o pedido, demonstrando compreensão pela essência dos seus ensinamentos.


Pouco antes disso, em 1917, foi nomeado professor de filosofia na Argélia, onde viveu cerca de um ano; foi seu primeiro contato direto e prolongado com o mundo do Islã. Após a morte de sua primeira mulher, Bherta Loury, ele abandonou Paris, em 1930, com destino ao Cairo. Seu objetivo era pesquisar e traduzir textos da mística islâmica. Consumado poliglota, sabia também o latim, o grego, o hebraico, o sânscrito, o alemão e o espanhol. Habitou numa casa simples, situada nos arredores da capital do Egito, até 1951, quando faleceu. Seu cotidiano era totalmente dedicado ao estudo e à escrita, além da manutenção de uma espantosa correspondência com interlocutores em quase todas as partes do mundo, inclusive o Brasil. Seu primeiro tradutor para o português, Fernando Guedes Galvão, de São Paulo, correspondeu-se com ele por mais de duas décadas, de 1929 a 1950. No Egito, Guénon se casou novamente, com Fátima, filha de um cheikh da centenária confraria mística Qadiriah, e teve quatro filhos.

Guénon é autor de livros até hoje considerados importantes para se entender a crise de valores do mundo contemporâneo, algo que tem sido admitido mesmo por aqueles que não esposam suas idéias; o prêmio Nobel de literatura de 1947, André Gide (1869-1951), por exemplo, escreveu em seu diário:
“O que me teria sucedido se eu tivesse lido os livros de René Guénon em minha juventude? Nesta altura, porém, eles ainda não haviam sido escritos. Agora é demasiado tarde, os dados já estão lançados. Mantive-me e mantenho-me ao lado de Descartes e de Bacon. Não importa! As obras de Guénon são notáveis e aprendi nelas muita coisa.” (Journal, 1942-1949)
Em vida, publicou 17 livros; postumamente, mais uma dezena de obras vieram à luz, abordando uma vasta gama temática. Da importância dos símbolos para se entender a sabedoria das distintas civilizações ao legado do pensamento chinês, da concepção político-religiosa de Dante Alighieri à história do ocultismo moderno, da Cabala à maçonaria, passando pela alquimia, a mística islâmica, a filosofia indiana e a matemática, sempre tendo como pano de fundo a filosofia perene.

O professor Kenneth Oldmeadow dividiu a obra guenoniana em cinco categorias, advertindo ao mesmo tempo que se trata de uma classificação algo arbitrária, mas que não obstante ajuda a melhor entendê-la. As categorias correspondem grosso modo a períodos da vida de Guénon. A primeira é a dos escritos ocultistas, abrangendo até a primeira década do século XX; vem em seguida a fase de crítica do ocultismo; a terceira categoria é a dos escritos sobre a metafísica oriental; a quarta, sobre a iniciação; e a quinta e última abrangendo a crítica da mentalidade materialista e relativista.

Entre estes últimos escritos, destacam-se A Crise do Mundo Moderno (Lisboa, Vega, 1977, publicado originalmente na França em 1927) e O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos (Lisboa, Dom Quixote, 1989, cuja primeira edição francesa é de 1945). Duas obras hoje consideradas visionárias por anteciparem a situação de perplexidade hoje experienciada por muitos, mostrando que, se o mundo moderno avançou do ponto de vista material e tecnológico, isto teve e tem um alto custo em termos de degradação intelectual, cultural, moral, ambiental e, na verdade, de toda a ambiência que cerca o homem, por exemplo em termos de explosão da violência nos centros urbanos, da expansão de formas mecanizadas e repetitivas de trabalho, da existência desprovida de sentido, da cultura estupidificante etc. Critica a crença num progresso indefinido e na evolução como uma lei inexorável, ‘dogmas’ modernos desprovidos de base verdadeiramente intelectual.

A doutrina tradicional dos ‘ciclos cósmicos’ é outro tema importante abordado; como transmitida por exemplo pelas tradições da Antigüidade Ocidental – como a antiga religião romana e também celta, ou pelo Hinduísmo –, ensina que um ciclo humano completo abrange quatro eras – e não um ‘progresso’ em linha reta –, indo da mais excelente à mais degradada, da ‘Idade de Ouro’ à de ‘Ferro’, passando pelas de ‘Prata’ e de ‘Bronze’. Guénon mostra que, segundo a doutrina hindu, estamos atualmente na última das quatro eras, e na fase final desta, a qual a cosmologia da Índia denomina Kali Yuga, ou ‘Idade Sombria’, na qual os princípios que normatizam a vida humana estão obscurecidos, esquecidos ou são abertamente contestados.

Em O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos, propõe por assim dizer uma continuação à A Crise do Mundo Moderno, detalhando e aprofundando os temas tratados, partindo de dois pilares: a teoria dos ciclos e a tendência verificada no mundo moderno de tudo reduzir ao quantitativo, daí a designação de ‘reino da quantidade’, que seria justamente a nossa época. A partir desta base comum, aborda assuntos diversificados, que vão do caráter enganoso das ‘profecias’ às contradições e limitações da psicanálise, da ‘ilusão das estatísticas’ à ‘ilusão da vida comum’ e à ‘degenerescência da moeda’.

Símbolos da Ciência Sagrada é outro livro seminal, no qual expõe a ciência do símbolo e mostra que este não é algo arbitrário, ou fruto da convenção, mas sim que deriva da própria natureza das coisas. Ao partir do dado sensível e concreto, o símbolo aponta para uma realidade mais elevada do que aquela aparente aos sentidos. O não entendimento do simbolismo, no caso da exegese dos escritos sagrados, resulta no literalismo; este por sua vez pode desembocar no chamado fundamentalismo. Se outrora relativamente inofensivo, o ‘fundamentalismo moderno’ é potencialmente explosivo em seu desprezo do rico legado filosófico, cultural e artístico de sua própria tradição e em sua intolerância para com visões e interpretações diferentes das suas, podendo levar às ações extremistas e violentas nos mais ‘militantes’.

Símbolos da Ciência Sagrada inclui ainda artigos publicados entre 1925 e 1950 em diversas revistas francesas, versando sobre o simbolismo das diversas tradições – céltica, islâmica, hindu, cristã, romana, chinesa. Interpretações penetrantes são dadas para diversos tipos de símbolos, do centro e do mundo, símbolos espaciais e geográficos – como a montanha, a caverna, a planície, o labirinto –, símbolos zoológicos, arquitetônicos, paisagísticos, corporais etc. A riqueza simbólica da árvore, só para dar um exemplo, é explorada a fundo, em todas as tradições. As raízes representam os princípios universais; os ramos, a manifestação desses mesmos princípios no tempo e no espaço. Os vários níveis da árvore simbolizam as ‘dimensões’ da realidade. Os frutos são imagem da misericórdia e a sombra, da clemência. Nos galhos, aninham-se os pássaros (símbolos dos estados superiores). Finalmente, a árvore é a imagem por excelência do axis mundi, o tronco representando o eixo vertical e os galhos o horizontal, exatamente como ocorre em outro símbolo fundamental, a cruz.

Os textos que Guénon escreveu originalmente para a revista Regnabit constituem um dos principais interesses de Símbolos da Ciência Sagrada, por mostrá-lo aplicando o método ‘perenialista’ à interpretação de aspectos da tradição cristã. Uma de suas intenções era mostrar a concordâncias das idéias fundamentais desta com as das demais perspectivas. Entre estes textos, incluem-se ‘O Sagrado Coração e a legenda do Santo Graal’, ‘O Verbo e o Símbolo’,
‘A idéia do Centro nas tradições antigas’, e ‘A reforma da mentalidade moderna’. Neste último, lamenta a desconfiança com a qual o simbolismo tem sido visto nos meios católicos e critica a falta de uma visão integralmente intelectual de parte da maioria daqueles que se dizem católicos, os quais muitas vezes encaram a religião fundamentalmente como apenas uma moral e como assunto do sentimento – como uma vaga 'religiosidade' em suma. O Homem e seu devir segundo o Vedanta e Introdução Geral ao Estudo das Doutrinas Hindus são outras obras importantes de Guénon, com sua abrangente exposição da filosofia antiga.

Em seus livros, Guénon não se limita a apontar as contradições e limitações da mentalidade moderna, mas também as saídas e soluções para as perplexidades e os impasses vividos pela consciência contemporânea, respostas as quais, para ele, estão justamente na mensagem da Philosophia Perennis.

Guénon foi, assim, um dos primeiros a dizer conscientemente não à euforia que tomava conta do mundo nas primeiras décadas do século XX, quando a crença nos poderes 'mágicos' da ciência e tecnologia estava em seu apogeu. Ele representou para muitos a objetividade em pessoa, vendo talvez melhor do que ninguém os perigos e males do subjetivismo e do individualismo, e as conseqüências longínquas destes e de outros pilares da weltanschauung predominante, como o culto à indústria (que levou à caótica situação ecológica atual, que ameaça a própria sobrevivência do gênero humano) e ao assim chamado 'progresso', puramente material. Seu agudo discernimento o fez ver exatamente o que estava errado com nosso mundo; ele foi assim um dos primeiros a desafiar intelectualmente, com pleno conhecimento de causa, as crenças do status quo.

Não se pode negar, contudo, que há aspectos problemáticos no legado guenoniano, que têm de ser vistos com olhos críticos. Entre eles, aponta-se a hipervalorização do Oriente, e a conseqüente subvalorização do patrimônio intelectual e espiritual ocidental. Seu equívoco mais grave tem relação com este ponto, pois diz respeito à incompreensão com relação a aspectos da tradição cristã. Metafísico universalista e adepto da perspectiva ‘sapiencial’, Guénon acabou por subestimar a mística devocional – amplamente majoritária no Cristianismo. Ele parecia também desconhecer Mestre Eckhart, que não obstante é um dos autores fundamentais da perspectiva sapiencial no Cristianismo. Errou igualmente ao procurar encaixar a tradição cristã dentro da mesma estrutura que é característica do Islã e do Judaísmo, a qual separa as dimensões ‘exotérica’ (legal, moral, convencional) e ‘esotérica’ (contemplativa). Ao passo que nela estas duas dimensões estão por assim dizer ‘fundidas’. Estas limitações foram, contudo, corrigidas e amplamente superadas pela obra de um ilustre companheiro de Guénon, o filósofo suíço-alemão Frithjof Schuon (1907-1998), que é considerado o outro grande expositor da Philosophia Perennis. Seja como for, a penetração e amplitude excepcionais da obra de Guénon, com sua apresentação e explanação de idéias cruciais, primam sobre estas lacunas. Ao longo deste último meio século, ela conquistou um amplo espectro de seguidores em todo o mundo, em grande parte devido à sua severidade e objetividade, e também – como estimou a Enciclopédia Chambers (Edimburgo, 1991. p. 73) – pela ‘natureza algo profética de suas colocações’.
Texto extraido de Mateus Soares de Azevedo  que é mestre em História das Religiões (USP)

Biografia e Obras 

René Guénon nasceu em Blois, 15 de novembro de 1886, onde passou sua juventude, os religiosos irão Instituto Notre-Dame des Aydes e depois o-Augustin Thierry faculdade.
Em 1904, o Bacharel em Filosofia e ultrapassa o de matemática elementar. Em outubro, ele se mudou para Paris, onde frequentou um curso de licenciatura em matemática no Colégio Rollin.
Dois anos depois, ele interrompeu os seus estudos universitários, provavelmente por causa de suas ondas instáveis.
Em 1909, aos 23 anos, publicou seus primeiros artigos no jornal "Gnosis". A parceria durou até 1912. Ele está interessado nas tradições taoístas, hinduístas e islâmicos.
Em 1912 ele entrou para o islamismo e adotou o nome de 'Abd al-Wahid Yahia ("Servo de Deus João Lei").
Em 1913, ele colaborou com a revista católica "La France Antimaçonnique" assinado com o pseudônimo de A Esfinge.
Em 1915 ele obteve uma licenciatura em literatura e no ano seguinte o diploma de estudos superiores de filosofia, com uma tese dedicada all'Examen des idées de Leibnitz sur la du calcul infinitesimal de significação. Ensina filosofia em Saint-Germain-en Laye-.
Em 1917 mudou-se para Setif, na Argélia, para continuar ensinando.
Em 1918 ele foi contratado para ensinar filosofia na faculdade de Blois, e em 1919 ele se demitiu do ensino para se dedicar aos seus estudos.
Em 1921 ele publicou seu primeiro livro, "Uma Introdução Geral ao estudo das doutrinas hindus", seguido por "A Teosofia, a história de uma pseudo-religião", que denunciava a impostura da Sociedade Teosófica.
Em 1923 ele publicou "O erro do espiritismo", que rejeita decididamente o espiritismo naquela época muito popular.
Em 1924 ele lançou "Oriente e Ocidente", que descreve a elite intelectual a um entendimento entre o Ocidente ea Europa Oriental. Currículos filosofia de ensino na Cours Saint-Louis.
Em 1925 começou a trabalhar com a revista católica "Regnabit" e da revista "Le Voile d'Isis".
Publicado em "O Homem e seu devir segundo o Vedanta", e deu uma palestra na Sorbonne, em "A Metafísica do Leste da Europa."
Em 1926, ele escreveu "A Crise do Mundo Moderno", em resposta a "Defending the West", de Henri Massis, recém lançado. Além disso, publica "O Rei do mundo".
Em 1929 ele publicou o "poder da autoridade temporal e espiritual" e do estudo de curta duração "São Bernardo".
Em 05 de março de 1930 mudou-se definitivamente para o Cairo, onde vai continuar a escrever e colaborar com a revista "Le Voile d'Isis".
Em 1931 ele publicou "O simbolismo da Cruz, dedicado ao 'Abd ar-Rahman Shaykh Elish El-Kebir, trabalho inspirador.
Em 1932 apareceu "Os vários estados do Ser", uma síntese admirável da Metafísica dos que Guénon foi porta-voz.
Em 1934 casa-se com Fátima, a filha do xeque Mohamed Ibrahim. Partir desta união, ele teve quatro filhos. Colabora com a revista italiana "Diorama filosófica."
Em 1935 a revista "Le Voile d'Isis" mudar o nome para "Traditionnelles Etudes" sob a orientação intelectual dos Guenon. A revista cessou a publicação de '40 a '45.
Entre 1945 e 1946 publicou "O reino da quantidade e os sinais dos tempos", "Os princípios do cálculo", "Considerações sobre a iniciativa" e "A Grande Tríade".
Nle 1951, 07 de janeiro, morre no Cairo, dizendo o nome de Alá. Seus restos mortais estão enterrados segundo os rituais islâmicos no cemitério de Darassa.




terça-feira, 21 de setembro de 2010

Helena Petrovna Blavatsky



Em 8 de Maio de 2010 completar-se-ão 119 anos desde que H.P.B. (como era chamada por seus discípulos) abandonasse sua encarnação física. Há um século se seguem escrevendo artigos, enciclopédias, livros e demais obras de consulta nos que unicamente se lê a versão tendenciosa (quase sempre a mesma, dando a sensação de que uns plagiam aos outros) que ofereceram determinadas instituições, contrárias aos postulados de Blavatsky. Com isso se demonstra uma falta de investigação e seriedade científica surpreendente.
Essas calúnias foram, já em seu tempo,rechaçadas por meios legais,coisa que não se menciona geralmente.
A principal “pedra de escândalo”, entretanto, foram uma série de textos provenientes do Tibet, que H.P.B. traduziu e utilizou como base para seus estudos comparativos das religiões e doutrinas da Filosofia Natural, assim como para demonstrar a origem comum de uma ciência de caráter misterioso nos começos da Humanidade. O problema se fixou porque H.P.B. não trouxe do Oriente nenhuma folha original e portanto não se podia aceitar a existência real destes textos arcaicos.
Estes textos foram descritos por H.P.B. em sua obra “A Doutrina Secreta” na seção titulada “Os livros Secretos de Lam-Rim e Dzyan” da seguinte maneira:

“O Livro de Dzyan derivado da palavra sânscrita dhyân (meditação mística) é o primeiro volume dos Comentários aos sete volumes secretos de Kiu-te, e um glossário das obras acessíveis publicamente do mesmo título. Em poder dos lamas gelugpas do Tibet, na biblioteca de qualquer monastério, há trinta e cinco volumes de Kiu-te para uso profano (exotérico); e também quatorze livros dos comentários e notas sobre o mesmo, pelos instrutores iniciados. À rigor, aqueles trinta e cinco livros deveriam intitular-se Versão Popular da Doutrina Secreta, pois estão cheios de mitos, véus e enganos. Por outra parte, os quatorze tomos de comentários com suas entrevistas, notas e um extenso glossário de termos ocultos, todos esses desenvolvimentos da pequena obra esotérica entitulada Livro da Sabedoria Secreta do Mundo, constitui um verdadeiro resumo de todas as ciências ocultas…”
Embora tudo isto saibamos do fim do século passado, a identidade dos livros públicos de Kiu-te constituiu um enigma por longo tempo, exceto possivelmente para uns poucos que, fazendo ornamento de um verdadeiro espírito de busca, incomodaram-se em investigar realmente as fontes e pistas dadas por H.P.B. Daí que resolveram chamar estes livros de puras invenções fantásticas de H.P.B., e por conseqüência todo o resto de sua volumosa obra “A Doutrina Secreta”. A grande maioria dos especialistas do Ocidente negou a existência dos livros sob este nome. Em certa classe de literatura se pode ler inclusive que os monges tibetanos não conhecem estes livros, mas esses autores, a nosso parecer, ou são pouco sérios, ou recolheram suas informações de monges sem suficiente erudição, já que simplesmente o período de estudos em qualquer monastério de monges gelugpas dura 20 anos.
Mas depois da análise detalhada dos dados que ela mesma menciona em suas referências, estes livros puderam ser finalmente identificados. Tal e como ela disse, foram encontrados na biblioteca de cada monastério gelugpa do Tibet, assim como em outros pertencentes a diversas seitas, como por exemplo os Kargyupda, Nyingmapa e Sakyapa. A constatação não deixa lugar a dúvidas: trata-se de obras realmente ocultas, que a mais pura tradição tibetana e budista considera por excelência como as doutrinas secretas de Buddha. Como veremos ao longo deste trabalho, foi entre outras coisas a transcrição dos fonemas, quer dizer, a forma que utilizou ou escolheu H.P.B. para refletir com o alfabeto ocidental a fonética dos vocábulos em línguas tão antigas, o que impediu ao longo este tempo poder identificar os mesmos textos. Temos que fazer notar, entretanto, que não foi H.P.B. que “inventou” está transcrições. Como veremos mais abaixo as tirou de outros viajantes anteriores a ela.
Personalidades tão reconhecidas no mundo da investigação antropológica e nos estudos comparativos das simbologias antigas como Mircea Elíade aceitam os dados de H.P.B. e valorizaram seus estudos. Obras tão sérias como a enciclopédia titulada “Arqueologia em Texto e Imagens” (Munich, 1975) aceitam as fontes mencionadas na Doutrina Secreta e as citam sem nenhum gênero de reticências. Vejamos o que se diz no primeiro parágrafo da página 1 do 5º volume desta obra, sob o título “surgimento da humanidade”:
“Tanto em tempos históricos como pré-históricos existiram e existem diferentes idéia e teorias sobre a origem(ou criação), assim como sobre a antigüidade do universo, da terra e do homem.
No “Livro de Dzyan” há uma compilação das teses possivelmente mas antigas que nos sejam conhecidas, encontramos ali uma cosmogonia maturada em detalhes e uma teoria da evolução que se refere não só a uma, mas também a cinco “humanidades”, chamada-las “raças”, que se desenvolveram ciclicamente. Estas teses, que se avaliam serem mais antigas que os Vedas e possivelmente foram a religião em todo o mundo pré-histórico, refletem-se mais tarde na religião hindu, zoroastriana, islâmica, judia e cristã, embora sob uma forma diferente e expressas em uma linguagem carregada de imagens mitológicas.
As “Estâncias de Dzyan” (tese ou dogmas de Dzyan) postulam o seguinte em relação ao homem:
1) Uma origem poligenética.
2) Diferentes formas de reprodução.
3) Uma evolução animal (pelo menos referente aos mamíferos) que seguiu a dos homens, em lugar de precedê-la, tal e como postula nossa ciência moderna.
Os períodos de tempo para a evolução do homem que se dão nas Estâncias remontam a muitos milhões de anos atrás, em correlação a nossas idéias atuais, e são tão inaceitáveis para a ciência como a hipótese de cinco humanidades (ou “Raças Raízes”), bem como de que os animais tenham surgido após o homem. Entretanto é interessante que se notem, vistos em detalhe, uma série de surpreendentes semelhanças entre algumas dessas teses e as hipóteses da biologia moderna. (…)”
H.P.Blavatsky, a primeira comentadora das Estâncias (as Estâncias foram interpretadas de novo pelo Dr. F. Hartmann a princípios de século e no ano 1958 pelo Dr. Viktor Eckert), escreveu em 1888 a respeito: “Isto deve parecer para o leitor ridiculamente absurdo. Entretanto, está estritamente nas linhas da analogia evolutiva, que a Ciência percebe no desenvolvimento das espécies animais viventes. Primeiro a procriação semelhante as células, por “divisão própria”; depois de umas quantas etapas, a ovípara, como no caso dos répteis, aos que seguem os pássaros; depois finalmente, os mamíferos com seus modos ovovíparos de produzir rebentos…”
Em outro volume da mesma enciclopédia escreve Philip Rawson:
“Tanto (William Butler) Yeats como (Hermann) Hesse foram sobre tudo influenciados pela obra da teósofa russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-91), que anteriormente a eles tinha propagado com grande afinco uma interpretação própria do pensamento hindu. O movimento iniciado por ela desempenhou um papel importante tanto na política da Índia como na vida cultural da Europa…”

Já dentro da volumosa obra “A Doutrina Secreta” tentou dar H.P.B. ao leitor algumas provas da existência destes livros. Assim, por exemplo cita o monge capuchinho Orazio della Penna, missionário no Tibet de princípios do século XVIII. Na seção já citada de “A Doutrina Secreta” encontramos uma nota de rodapé com os seguintes dados:
“O monge italiano Della Penna se mostra em suas Memórias (veja a obra Tibet, por Markham, pág. 309 e ss.) certas afirmações contidas nos Livros de Kiu-te, e com efeito cita “a grande montanha de 160.000 léguas de altura” (uma légua tibetana tem 5 milhas) na cordilheira dos Himalayas. E diz o monge: “Segundo suas crenças, no ocidente do mundo há um paraíso aonde um santo chamado Ho Pahme, que significa santo, de grande esplendor e infinita luz. Este santo tem vários discípulos, todos os quais são Chang-chub”, isto é “espíritos que por sua perfeição não necessitam santidade e educam aos lama renascidos lhes ajudando a viver”. Disso se infere que os que della Penna chama Chang-chub, e cujo verdadeiro nome Yang-chub ( presumivelmente considerados “mortos”) são nem mais nem menos que boddhisatvas viventes, alguns conhecidos pelos irmãos” (Bhante)…”
O monge Orazio della Penna extraiu passagens de textos antigos com a intenção de demonstrar com isso o absurdo dessas doutrinas orientais. Esses dados foram por outra parte comentados pelo Chohan Lama em um artigo aparecido sob o título de “Ensinos Tibetanos”, antes de que suas informações fossem utilizadas para a nota citada de “A Doutrina Secreta” no parágrafo anterior. Este artigo, que explicava o significado da grande montanha “de 160.000 léguas de altura”, indicava que os mencionados dados foram extraídos do Kanjur, uma parte do Cânon Budista Tibetano. De modo que existe uma relação entre os livros Kiu-te e o Kanjur. Mas, já que o Kanjur se compõe, conforme seja a edição, de 100 ou mais capítulos muito extensos, esta informação demonstrou ser insuficiente.
Citada a nota de “A Doutrina Secreta” indica a fonte destes dados a obra “Tibet”, de Markham, pág. 309 e seguintes. De investigações posteriores resultou que não existia nenhum livro com o título “Tibet”, de nenhuma pessoa chamada Markham. Mas entretanto Sir Clemens Robert Markham, famoso geógrafo e viajante (1830-1916), tinha publicado um livro sob o título “Narrações da Missão de George Bogle ao Tibet” e “A viagem de Thomas Manning a Lhasa”, que apareceu em Londres em 1876, com uma segunda edição em 1879. Neste livro se encontra efetivamente na página 309 e seguintes um anexo que leva o título “Breves explicações sobre o Reino do Tibet”, escrito por della Penna em 1730. Na página 328 deste anexo se encontra a história da grande montanha de 160.000 léguas, extraída do Kanjur (ou: bKa-gyur, em transcrição fonética), e que ele soletra “K´hagiur” na pág. 334 se lê a informação sobre os livros de Kiu-te.
Della Penna escreve:
“Shakia Thupba restabeleceu as leis das que se diz que tinham decaído, e das que agora se diz que estão recolhidas em 106 volumes, nos que os discípulos da Shakia Thupba escreveram, depois de sua morte, o conteúdo total do ensino tal e como a tinham ouvido da boca de seu mestre. Estes livros se dividem em duas categorias de leis. Contem 69 volumes, chamadas Leis de Dote, e outra categoria se compõe de 38 volumes, chamados Khiute.”
Shakia Thupba, ou mais corretamente Sykya Thup-p é naturalmente Gautama Buddha e suas leis as do Kanjur. É fácil notar que as duas categorias a que se refere della Penna, Dote e Khiute, são respectivamente o mDo-SDE e o rGud-SDE, quer dizer: a parte (SDE) dos Sutras (mDo) e a do Tantra (rGud) da palavra de Buddha, ou seja do Kanjur.
O número de volumes mencionados por della Penna temos que considerá-lo como pouco confiável, pois (diga-se de passagem que: 69 e 38 não somam 106!) na contagem de della Penna existem outras várias discrepâncias (por ex. diz em outro lugar que os volumes de Khiute são 36, etc.) com o número real de volumes de cada uma das categorias, que se encontram nas bem conhecidas edições do Kanjur.
“A Doutrina Secreta” fala de 7 textos (rolos) secretos de Kiu-te, assim como de 14 volumes de comentários aos mesmos, dos quais o primeiro é o “Livro de Dzyan”. Há motivos para acreditar conforme diz David Reigle que entrevistas provenientes desses 14 Volumes Secretos de Comentários se podem ler também em determinados comentários acessíveis, que se encontraram no Tanjur (transcrição moderna: bsTan-gjur, também Bstan-hgyur), outra das mais importantes compilações de partes do Canon Budista Tibetano.
Uma tradição muito generalizada fala de versões originais dos livros de Kiu-te. Esta tradição foi já inclusive citada no século XIV pelo Budon (Bu-ston, 1290-1364) em sua “História do Buddhismo” (Chos´byun) e mais tarde recordada nos comentários ao Kiu-te (rGyud-SDE) por ele mesmo. Embora estas versões originais não possam ser encontradas entre os textos conhecidos na Índia e Tibet, sim se podem contar entre os existentes em lugares como Sambhala, etc. Determinados sábios, como Aryasanga, teriam tido acesso a estes textos e alguns deles escreveram comentários em que citam esses livros. Um exemplo disso são as entrevistas contidas na única obra conhecida do Bodhisatva Vajragarbha. O Dr. L. Snellgrove observa:
“As passagens, que ele realmente cita, não provêm de nenhum Tantra normal; são sempre explicativos e dogmáticos, e ele se refere com freqüência a essa obra quando procura um significado figurativo da passagem”.
Não provêm de “nenhum Tantra normal” porque estes não são geralmente explicativos. É característico tendo em conta as asseverações de H.P.B. em “A Doutrina Secreta” de que os 14 Volumes Secretos sejam Comentários e Notas de Kiu-te, assim como que contenham um glossário sobre volumes profanos do mesmo nome. Tal e como o Bodhisattva Vajragarbha constata em seu comentário:
“Da maneira em que se acostuma a versão abreviada só se pode entender o significado óbvio (neyartha); o verdadeiro significado (nitartha) obtém-se através do Mula Tantra.”
Está claro que as versões abreviadas dos livros Kiu-te de que dispomos atualmente são obras esotéricas, e que determinados comentários existentes e explicam corretamente seu significado.
Simplesmente o fato de que os manuscritos originais de todos os escritos de H.P. Blavatsky são conservados no British Museum, em uma câmara hermética extraordinariamente acondicionada com todos os adiantamentos técnicos, a que só se tem acesso com uma permissão especial, faz-nos pensar que suas obras são consideradas de verdadeira importância. Nesta última década tem surgido estudos realmente exaustivos baseados nestes livros, como por exemplo “O Homem Como Medida de Todas as Coisas: Comentários Sobre as Estâncias de Dzyan” pelo Sri Krishna Prem e Sri Madhava Hashish, publicado pela editorial francesa Rocher, no ano de 1980.
A mesma H.P.B. parece prever em suas obras este desenvolvimento. Assim lemos por exemplo:
“E se Tróia foi negada e considerada como um mito; a existência de Herculano e de Pompéia declaradas ficção; se se riram das viagens de Marco Pólo que se chamaram fábulas, tão absurdas como os contos do Barão Münchhausen, por que tinha que ser melhor tratada a escritora de Isis Sem Véu e de A Doutrina Secreta? (…)”
“Nenhum incrédulo que considere como uma maquinaçã A Doutrina Secreta está obrigado, nem se lhe pede, que dê crédito às nossas afirmações, as quais foram já proclamadas como tal por certo jornalista americano muito hábil, ainda antes de que a obra entrasse na prensa.”
“Tampouco, depois de tudo, é necessário que ninguém creia nas Ciências Ocultas e nos Ensinos Antigos, antes de que saiba algo de sua própria Alma ou sequer nela creia. Nenhuma grande verdade foi jamais aceita à priori, e geralmente transcorreu um século ou dois antes de que tenha começado a vislumbrar-se na consciência humana como uma verdade possível (…). As verdades de hoje são as falsidades e enganos de ontem, e vice-versa. Só no século XX será quando algumas partes, se não o todo da obra presente, serão vindicadas.”
Demonstrado-o neste trabalho parece ter sido pensado já faz um século, como o demonstram as seguintes palavras em outra parte de “A Doutrina Secreta”:
“À verdade, o que se dá a luz nestes volumes, foi escolhido assim de ensinos orais como escritos. Esta primeira apresentação das doutrinas esotéricas está baseada sobre Estâncias que constituem os anais de um povo que a etnologia desconhece. Estão escritas aquelas, conforme se afirma, em uma língua que se acha ausente do catálogo das linguagens e dialetos que conhece a filologia; assegura-se que surgiram de uma fonte que a ciência repudia: isto é, o Ocultismo; e finalmente são oferecidas ao público por intermédio de uma pessoa desacreditada sem cessar ante o mundo por todos quantos odeiam as verdades vindas fora de hora, ou pelos que têm alguma preocupação particular que defender. Assim é que o repúdio destes ensinos é coisa de esperar-se, e ainda deve esperar-se de antemão. Nenhum dos que se chamam a si mesmos eruditos em qualquer dos ramos da ciência exata, permitir-se-á olhar estes ensinos seriamente. Durante este século (o XIX) serão ludibriadas e rechaçadas à priori; mas neste século unicamente, porque no século XX de nossa Era, começarão a conhecer os eruditos a Doutrina Secreta, e que ela não foi nem inventada nem exagerada, a não ser pelo contrário, tão somente esboçada; e finalmente, que seus ensinos são anteriores aos Vedas. Não é isto uma pretensão de profetizar, a não ser a simples afirmação fundada no conhecimento dos fatos. Em cada século tem lugar uma tentativa para demonstrar ao mundo que o Ocultismo não é uma superstição vã. Uma vez que a porta fique algo entreaberta, se irá abrindo mais e mais nos séculos sucessivos. Os tempos são a propósito para conhecimentos mais sérios que os até a data permitidos, embora tenham ainda que ser muito limitados.”
Em outra passagem lemos:
“…quando chegar o tempo para o impulso do século XX… (se) encontrará uma grande comunidade unida de homens que estarão preparados para dar as boas-vindas aos novos portadores das tochas da verdade…(este próximo impulso) Encontrará a mente do homem capacitada para receber sua mensagem, e uma forma de expressão apropriada, na qual ele poderá vestir a nova verdade que deve trazer , assim como uma Organização que esperará sua chegada e que poderá varrer os obstáculos e dificuldades puramente materiais e mecânicos de seu caminho. Calcule-se quanto poderá alcançar aquele, a quem lhe tenham sido dadas tão favoráveis possibilidades…”
O que possivelmente se completa com as seguintes palavras extraídas de diferentes passagens de A Doutrina Secreta:
“…o ocultismo triunfará antes de que nossa era alcance o “triplo setenário do Shani (Saturno)” do ciclo ocidental, na Europa; ou seja antes de terminar o século XXI”.
“Verdadeiramente, o arco do remoto passado não está morto; tão somente repousa. O esqueleto dos sagrados carvalhos druídicos ainda pode brotar de novo de seus ramos secos e renascer a nova vida, como brotou «formosa colheita» do punhado de trigo achado no sarcófago de uma múmia de quatro milênios. E por que não? A verdade é muito mais extraordinária que a ficção. Qualquer dia pode vindicar-se improvisadamente e humilhar a arrogante presunção de nossa época, provando que a Fraternidade Secreta não se extinguiu com os filaleteos da última escola eclética; que ainda floresce a Gnosis na terra, e que são muitos seus discípulos, embora permaneçam ignorados. Tudo isto pode levá-lo a cabo um ou vários dos Grandes Mestres que visitam a Europa, pondo em evidência por sua vez aos presunçosos difamadores e caluniadores da Magia.”
“Entre os mandamentos de Tsong Khapá, há um que ordena aos arhats fazer um esforço em cada século, em certo período do ciclo, para iluminar ao mundo, inclusive aos “bárbaros brancos”. Até hoje nenhuma de tais tentativas teve bom êxito. Os fracassos somaram-se a mais fracassos. Trataremos de explicá-lo à luz de certa profecia? Diz-se que até que Pban-chhen-rinpochhe (a grande jóia da Sabedoria) consinta renascer no país dos P´helings (ocidentais) como conquistador espiritual (Chom-denda) e dissipe os enganos e a ignorância dos tempos, de pouco servirá o intento de extirpar os preconceitos dos habitantes de P´helingpa (Europa), porque os filhos desta não escutarão a ninguém.
Outra profecia declara que a Doutrina Secreta se conservará em toda sua pureza no Bhod-yul (Tibet) apenas enquanto os estrangeiros não invadam o país. As mesmas visitas dos europeus, embora amistosas, seriam mortais para os tibetanos. Este é o verdadeiro motivo do exclusivismo do Tibet”.
Só fica nos perguntar se esses esforços e impulsos poderão despertar definitivamente o sentido de responsabilidade que o Ocidente contraiu automaticamente ao fazer-se depositário de tantos e tantos textos resgatados do Oriente depois das terríveis invasões dos últimos tempos?
Deus o queira!
Artigo traduzido e publicado pelo site Levir.
Helena Petrovna Blavatsky - a corajosa e fascinante personagem da renascença ocultista que floresceu na metade do século dezenove - foi uma revolucionária do pensamento humano. Sua obra monumental de informações e denúncias culturais abalou os dogmas e a história de nosso tempo. Ela passou quase toda sua vida mergulhada a desvendar o mistério do ser humano, construindo um sistema de pensamento novo e ao mesmo tempo antigo. H. P. B. foi, antes de tudo, uma poderosa pensadora. O pensar era a sua terrível arma contra a ignorância de sua época. Do alto de suas cátedras, os sábios oficiais e intocáveis foram queimados por uma nova forma de pensar o Universo.

Em 1921, um discípulo e amigo Winfred A. Parley, compilou uma extensa coleção de citações e pensamentos de H. P. B.; posteriormente, esse material foi publicado pela Editora Teosófica da Inglaterra.

No ano de 1970, foram convocados vinte teósofos de todo o mundo para selecionar outras citações da pensadora, as quais fazem parte hoje do Calendário da Sabedoria, publicado pela The Theosophical Publishing House. No Brasil a publicação desta obra foi feita pela Editora Pensamento, com tradução de Joaquim Gervásio de Figueredo, e cujo trabalho serviria de base para a nossa pesquisa.

Há, também, em português, editada pela Ground, um Glossário Teosófico, de H. P. B., enfeichando mais de 18.000 verbetes sobre esoterismo, ciências ocultas, hermetismo, espiritualidade, religião e outros segmentos do conhecimento, cuja leitura se torna obrigatória para o estudante de Teosofia.

A maioria dos pensamentos abaixo listados foram selecionados por membros da Sociedade Teosófica no Brasil.
* * *

"O universo é a combinação de milhares de elementos, e contudo é expressão de um simples espírito - um caos para os sentidos, um cosmos para a razão."
(Ísis sem Véu)
"Se há um espírito imortal desenvolvido no homem, ele deve existir em tudo o mais, pelo menos em estado latente ou germinal; pode ser apenas uma questão de tempo para que cada um destes germes torne-se plenamente desenvolvido."
(Ísis sem Véu)
"A Doutrina Secreta ensina o progressivo aperfeiçoamento de todas as coisas, tanto dos mundos como dos átomos. E este estupendo aperfeiçoamento não tem um começo concebível nem um fim imaginável. Nosso "Universo" é apenas um de um infinito número de Universos, todos eles "Filhos da Necessidade", porque na grande cadeia cósmica de Universos cada elo acha-se numa relação de efeito com referência ao antecessor, e de causa com referência ao sucessor."
(A Doutrina Secreta)
"O altruísmo é uma parte integral do auto-aperfeiçoamento. Mas temos de discernir. Ninguém tem o direito de inanir-se até a morte para que outrem possa ter alimento, a não ser que a vida deste último obviamente seja mais útil do que a do primeiro. Mas é seu dever sacrificar o próprio conforto e trabalhar pelos outros se estes estão incapacitados para o trabalho."
(A Chave da Teosofia)
"A harmonia no mundo físico e matemático dos sentidos é justiça no mundo espiritual. A justiça produz harmonia e a injustiça discórdia; a discórdia, numa escala cósmica, significa caos - aniquilação."
(Ísis sem Véu)
"Os maus pensamentos são menos prejudiciais do que os pensamentos utópicos e medíocres. Porque contra os maus pensamentos estais sempre alerta, e estando determinados a combatê-los e vencê-los, essa determinação vos auxilia a desenvolver a força de vontade. Os pensamentos medíocres, ao contrário, servem simplesmente para distrair a atenção e desperdiçar energias."
(Ocultismo Prático)
"A idéia da Absoluta Unidade estaria inteiramente fragmentada em nossa concepção se não tivéssemos algo concreto, diante de nossos olhos, que contivesse essa Unidade. E a deidade, sendo absoluta, deve ser onipresente; por isso é que nenhum átomo deixa de contê-LA em si. As raízes, o tronco e seus muitos galhos são três objetos distintos, e no entanto formam uma árvore."
(A Doutrina Secreta)
"Meditação, abstinência em tudo, observação dos deveres morais, pensamentos agradáveis, boas ações e palavras amáveis, como também a boa vontade com todos e o total esquecimento do Eu, são os meios mais eficazes de obter conhecimento e preparar-se para a recepção da sabedoria superior."
(Ocultismo Prático)
"Um alto desenvolvimento das faculdades intelectuais não implica a verdadeira vida espiritual. A presença de uma alma intelectual humana, altamente desenvolvida numa pessoa... é perfeitamente compatível com a ausência de Buddhi, ou a alma espiritual. A não ser que o primeiro evolua ou se desenvolva dos ou sob os benéficos raios da última, ele permanecerá sempre e tão-somente uma progênie direta dos princípios terrestres, inferiores, estéreis quanto às percepções espirituais, sepulcro magnificente, luxurioso, cheio de ossos secos de matéria_ decomposta em seu interior."
(Revista Lúcifer)
"A perfeição, para ser completa, deve nascer da imperfeição; o incorruptível deve brotar do corruptível, tendo a este por veículo, base e contraste."
(A Doutrina Secreta)
"O Homem, como Homem Arquetípico ou Adão, é feito para conter todo o Sistema Cabalístico. Ele é o grande símbolo e a sombra projetados pelo Cosmos manifestado, que em si é o reflexo do princípio impessoal e sempre incompreensível. Esta sombra supre com sua estrutura - o pessoal nascido do impessoal - uma espécie de símbolo objetivo e tangível de todas as coisas visíveis do Universo."
(Revista Lúcifer)
"Os antigos... compreenderam o fato de que as relações recíprocas entre os corpos planetários são tão perfeitas quanto as que existem entre os corpúsculos sangüíneos que flutuam num fluido comum, e que cada um é afetado pelas influências combinadas dos restantes, uma vez que cada um por sua vez afeta todos os demais."
(Ísis sem Véu)
"Os juramentos nunca impõem uma obrigação, até que cada homem compreenda plenamente: 1º) que a humanidade é a mais alta manifestação na Terra da Suprema Deidade Invisível; 2º) que cada homem é uma encarnação de seu Deus; 3°) quando o sentido de responsabilidade pessoal estiver tão desenvolvido nele que considere o perjúrio o maior insulto possível a si mesmo e à humanidade. Nenhum juramento impõe uma obrigação de fato, a não ser quando prestado por alguém que, sem qualquer juramento, guarde solenemente uma palavra de honra."
(Ísis sem Véu)
"A pessoa dotada da faculdade de pensar nas coisas mais insignificantes do plano superior do pensamento, em virtude de tal dom tem, por assim dizer, um poder plástico de formação em sua imaginação real. Sobre o que quer que essa pessoa pense, seu pensamento será tão ou mais intenso que o pensamento de uma pessoa comum, que por esta mesma força obtém o poder de criação."
(Revista Lúcifer)
"A humanidade - pelo menos em sua maioria - detesta refletir, mesmo em benefício próprio. Magoa-se, como se fora um insulto, ao mais humilde convite para sair por um momento das velhas e batidas veredas e, a seu critério, ingressar num novo caminho para seguir em alguma outra direção."
(A Doutrina Secreta)
"A mente recebe indeléveis impressões mesmo de conhecimentos ou pessoas casualmente encontradas apenas uma vez. Assim como alguns segundos de revelação da chapa fotográfica sensibilizada é tudo o que se necessita para preservar indefinidamente a imagem de um objeto, o mesmo acontece com a mente."
(Ísis sem Véu)
"O motivo certo para a busca do autoconhecimento é aquele que pertence ao conhecimento e não ao eu. O autoconhecimento merece ser procurado em virtude de ser conhecimento e não em virtude de pertencer ao eu. O principal requisito para adquirir o autoconhecimento é um amor puro. Buscai o conhecimento por puro amor, e o autoconhecimento finalmente coroará o esforço."
(Ocultismo Prático)
"A força centrípeta não poderia manifestar-se sem a centrífuga na revolução harmoniosa das esferas; todas as formas são produtos desta força dual da natureza."
(Ísis sem Véu)
"A sabedoria oriental ensina que o espírito tem de passar pelo ordálio da encarnação e da vida, e ser batizado com a matéria antes de poder atingir a experiência e o conhecimento. Só após isso ele recebe o batismo da alma, ou autoconsciência, e pode retornar à sua condição original de um deus, mais a experiência, terminando com a onisciência. Em outras palavras, ele pode retornar ao estado original da homogeneidade da essência primordial, somente através da frutificação do Karma, que é o único capaz de criar uma absoluta deidade consciente, distante apenas um grau do TODO absoluto."
(Revista Lúcifer)
"Vivemos numa atmosfera de escuridão e desespero... porque nossos olhos estão voltados e fitos na terra, repleta de manifestações físicas e grosseiramente materiais. Se, ao invés disso, o homem, prosseguindo na jornada de sua vida, olhasse não para o céu - o que é apenas uma figura de retórica - mas para dentro de si mesmo, e centralizasse seu ponto de observação no homem interior, muito logo escaparia dos rolos compressores da grande serpente da ilusão."
(Revista Lúcifer)
A magia, como ciência, é o conhecimento destes princípios e da maneira como a onisciência e onipotência do espírito e seu domínio sobre as forças da natureza podem ser adquiridas pelo indivíduo, mesmo estando ainda no corpo físico. Como arte, a magia é a aplicação deste conhecimento na prática."
(Ísis sem Véu)
"A filosofia platônica era a da ordem, sistema e proporção. Abrangia a evolução dos mundos e espécies, a correlação e conservação da energia, a transmutação da forma material, a indestrutibilidade da matéria e do espírito. Sua posição a este respeito estava muito à frente da ciência moderna, e enfeixava o arco de seu sistema filosófico com um fecho a um tempo perfeito e inabalável."
(Ísis sem Véu)
"O egoísmo pessoal é que excita e estimula o homem a abusar de seus conhecimentos e poderes. O egoísmo é um edifício humano, cujas janelas e portas estão sempre escancaradas para que toda espécie de iniqüidades entre na alma humana."
(A Doutrina Secreta)
"A doutrina fundamental da filosofia esotérica não admite privilégios ou dons especiais no homem, salvo aqueles adquiridos por seu próprio Ego, através de esforços e méritos pessoais, durante toda uma longa série de metempsicoses e reencarnações."
(A Doutrina Secreta)
"Para tomar-se autoconsciente, o Espírito deve passar pelos diversos ciclos de existência, atingindo na Terra o seu ápice no homem. O Espírito em si é uma abstração negativa inconsciente. Sua pureza é inerente, não adquirida por mérito; daí que para tornar-se o mais elevado Dhyan Chohan (Senhor de Luz), é necessário que todo Ego atinja a plena autoconsciência como humano, isto é, consciente, sintetizado para nós no Homem."
(A Doutrina Secreta)
"Atinge-se a cultura espiritual pela concentração. Deve ser continuada diariamente e ser usada a todo o momento. A meditação foi definida como a ´cessação da atividade externa do pensamento´. Concentração é a total tendência da vida para um dado fim."
(Ocultismo Prático)
"Não há nenhum bem ou mal em si, como não há nem "elixir da vida" nem "elixir da morte", nem veneno em si. Tudo está contido na única e mesma essência universal, dependendo os resultados do grau de sua diferenciação e de suas várias correlações. O seu lado de luz produz vida, saúde, bem-aventurança, paz divina, etc.; o lado de trevas traz morte, doenças, tristezas e conflitos."
(A Doutrina Secreta)
"A Natureza revela seus mais íntimos segredos e partilha a verdadeira sabedoria somente àquele que busca a verdade por amor à própria verdade, e que aspira ao conhecimento para conferir benefícios aos outros, não à sua insignificante personalidade."
(Revista Lúcifer)
"Karma é uma lei infalível, que nos planos físico, mental e espiritual da existência ajusta o efeito à causa. Assim como não existe causa sem efeito - desde uma perturbação cósmica até o movimento de nossas mãos; assim como cada coisa engendra sua semelhante, da mesma forma o Karma é aquela lei invisível e desconhecida que sábia, inteligente e eqüitativamente ajusta cada efeito à sua causa e leva esta ao seu produtor."
(A Chave da Teosofia)
"Não há nenhum Demônio, nenhum Mal fora do gênero humano para produzir um Demônio. O Mal é uma necessidade no Universo Manifestado, e um dos seus sustentáculos. É uma necessidade para o progresso e a evolução, tanto quanto a noite é necessária para a produção do dia, e a morte para a produção da vida, afim de que o homem possa viver por todo o sempre."
(A Doutrina Secreta)
"Uma lei oculta ensina que todo homem corrige seus defeitos individuais, aperfeiçoa, por pouco que seja, o organismo de que é parte integrante. Do mesmo modo, ninguém peca ou sofre os efeitos do pecado, sozinho. De fato, não existe nenhuma "separatividade". A mais achegada aproximação desse estado egoísta, que as leis da vida permitem, está na intenção ou motivo."
(A Chave da Teosofia)
"Resumindo tudo em poucas palavras, MAGIA é SABEDORIA espiritual. A Natureza é a aliada, aluna e serva do mago. Um princípio comum, vital, penetra todas as coisas, e é controlável pela vontade do homem perfeito. O Adepto pode estimular os movimentos das forças naturais nas plantas e animais num grau sobrenatural. Tais fatos não são obstruções da Natureza, mas aceleramentos em que são dadas condições de ação vital mais intensa."
(Ísis sem Véu)
"O Karma não cria nem planeja nada. É o homem quem planeja e cria causas, e a Lei Cármica ajusta o efeito. Tal ajustamento não é um ato, mas a harmonia universal que tende sempre a reassumir sua posição original, tal qual um galho de árvore que, puxado violentamente para baixo, retorna com igual violência. Se o braço que o puxou se deslocar ou quebrar, quem teria sido o causador do sofrimento? O galho ou a nossa insensatez?"
(A Doutrina Secreta)
"Uma completa familiaridade com as faculdades ocultas de tudo que existe na Natureza, tanto visível quanto invisível; suas mútuas relações, atrações e repulsões, bem como sua causa, investigada até o princípio espiritual que penetra e anima todas as coisas; a habilidade para prover as melhores condições para que tal princípio se manifeste - noutras palavras, um profundo e exaustivo conhecimento das leis naturais - essa era e é a base da Magia."
(Ísis sem Véu)
"A oração é uma ação enobrecedora quando é um intenso sentimento, um ardente desejo emitido de nosso próprio coração para o bem de outros, e quando inteiramente isento de qualquer objetivo egoísta, pessoal."
(A Doutrina Secreta)
"A vontade do Criador, pela qual todas as coisas foram feitas e receberam seus primeiros impulsos, é propriedade de todo ser vivente. O homem, dotado de uma espiritualidade adicional, tem a maior partilha dessa vontade. Ele obterá maior ou menor sucesso no uso do poder mágico da mesma, proporcionalmente à matéria nele existente."
(Ísis sem Véu)
"Nós produzimos causas, e estas despertam as forças correspondentes no Mundo Sideral. Elas são magnéticas e irresistivelmente atraídas por aqueles que as produzem, e reagem sobre tais pessoas, sejam praticamente os malfeitores ou simplesmente "pensadores" que nutrem maldades."
(A Doutrina Secreta)
"Agir e agir sabiamente no momento oportuno, esperar e esperar pacientemente quando é hora de repouso, põem o homem em sintonia com as marés cheias e baixas, de sorte que, com a natureza e a lei como apoio, e a verdade e a beneficência como farol, ele pode realizar maravilhas."
(Ocultismo Prático)
"A roda da Lei gira rapidamente. Mói noite e dia. Separa do dourado grão as cascas inúteis, e da farinha o farelo. A mão do Karma guia a roda, cujas rotações marcam as palpitações do coração cármico."
(A Voz do Silêncio)
"A idéia teosófica da caridade significa esforço pessoal pelos outros; compaixão e bondade pessoais, interesse pessoal pelo bem estar dos que sofrem; simpatia pessoal, providência e assistência em seus sofrimentos e necessidades."
(A Chave da Teosofia)
"Pela radiante luz do oceano magnético universal, cujas ondas elétricas abarcam o Cosmos, e em seu incessante movimento penetram cada átomo e molécula da infinita criação, os discípulos do mesmerismo - não obstante a pobreza de seus vários experimentos - intuitivamente percebem o alfa e o ômega do grande mistério. Sozinho, o estudo deste agente, que é o divino alento, pode desvendar os segredos da psicologia e da fisiologia, dos fenômenos cósmicos e dos espirituais."
(Ísis sem Véu)
"O reto pensamento é uma boa coisa, mas o pensamento solitário pouco vale; precisará ser traduzido em ação."
(Theosophist)
"Ninguém deve entrar no Ocultismo, nem mesmo tocar nele, antes de estar perfeitamente familiarizado com seus próprios poderes, e de saber como comensurá-lo com suas próprias ações. E isto ele só pode fazer estudando a filosofia do Ocultismo antes de entrar num treinamento prático. Caso contrário, fatalmente ele cairá na Magia Negra."
(Revista Lúcifer)
"Quedamo-nos estupefatos diante do mistério que nós próprios fabricamos, e dos enigmas da vida que não queremos resolver, e depois acusamos a grande Esfinge de nos devorar. Mas, em verdade, não há um acidente em nossa vida, não há um dia mau ou uma desgraça cuja causa não possa ser encontrada em nossas próprias ações, nesta ou noutra existência. Se alguém infringe as leis da harmonia ou, conforme a expressão de um teósofo, as "leis da vida", deve estar preparado para cair no caos que ele mesmo produziu."
(A Doutrina Secreta)
"O único decreto do Karma - decreto eterno e imutável - é a Harmonia completa no Mundo da Matéria, como o é no Mundo do Espírito. Portanto, não é o Karma que nos pune ou recompensa, porém somos nós mesmos que nos recompensamos ou punimos, segundo trabalhemos com a Natureza, pela Natureza e de acordo com a Natureza, obedecendo ou transgredindo às leis de que depende essa Harmonia."
(A Doutrina Secreta)
"Pitágoras ensinava que todo o universo é um vasto sistema de combinações matematicamente corretas. Platão mostra a deidade geometrizada. O mundo é sustentado pela mesma lei de equilíbrio e harmonia sobre a qual foi construído."
(Ísis sem Véu)
"Certamente o homem não é nenhuma criação especial. Ele é o produto do trabalho do aperfeiçoamento gradual da Natureza, semelhante a qualquer outra unidade vivente nesta Terra. Mas isto é apenas com referência ao tabernáculo humano. Aquilo que vive e pensa no homem e sobrevive a essa forma é o "Eterno Peregrino", a protéica diferenciação no Espaço e Tempo do Uno "Incognoscível" e Absoluto."
(A Doutrina Secreta)
"Parabrahman, a Realidade única, o Absoluto, é o campo da Consciência Absoluta, isto é, aquela Essência que está além de toda relação com a existência condicionada, e da qual a existência consciente é um símbolo condicionado. Mas desde que, em pensamento, passemos desta (para nós) Absoluta Negação, sobrevém a dualidade no contraste de Espírito (ou Consciência) e Matéria, Sujeito e Objeto.
(A Doutrina Secreta)
"A idéia que um homem tem de Deus é aquela imagem de luz ofuscante que vê refletida no espelho côncavo de sua própria alma, e contudo isso não é Deus, mas apenas Seu reflexo. Sua glória está ali, porém é a luz de seu próprio Espírito que ele vê: é tudo o que ele pode comportar. Quanto mais claro o espelho, tanto mais brilhante será a divina imagem. Mas o mundo exterior não pode testemunhá-lo no mesmo momento."
(Ísis sem Véu)
"Há uma lei fundamental do Ocultismo que diz não haver repouso ou cessação de movimento na Natureza. Aquilo que parece repouso é apenas a mudança de uma forma para outra; a mudança de substância anda de mãos dadas com a de forma - conforme nos ensina a Física oculta."
(A Doutrina Secreta)
"O pensamento é uma energia que afeta a matéria de várias maneiras, mas a consciência em si, como a entende e explica á Filosofia oculta, é a mais elevada qualidade do princípio senciente espiritual em nós, a Alma Divina (ou Buddhi) e nosso Ego superior - e não pertence ao plano da materialidade."
(A Doutrina Secreta)
"A Doutrina Secreta ensina a identidade fundamental de todas as Almas com a Alma Suprema Universal, sendo esta um aspecto da Raiz Desconhecida. Ensina também a peregrinação obrigatória para todas as Almas - centelhas daquela Alma Suprema -através do Ciclo Reencarnatório, durante todo esse período, de acordo com a Lei Cíclica e Cármica."
(A Doutrina Secreta)
A mente requer purificação toda vez que nos irritamos, que dizemos uma falsidade, ou divulgamos faltas alheias. Devemos purificá-la, toda vez que falamos ou fazemos qualquer coisa, com a finalidade de bajular, ou quando alguém é enganado pela insinceridade de nossas palavras ou de nossos atos."
(Ocultismo Prático)
"Os ensinos secretos referentes à evolução do Cosmos Universal não podem ser ministrados, já que não poderiam ser compreendidos pelas mais altas mentalidades desta época, e parece haver poucos Iniciados, mesmo entre os maiores, aos quais é permitido especular sobre este assunto... os Instrutores dizem claramente que nem mesmo os Dhyani-Chohans jamais penetraram nos mistérios que se acham além dós limites que separam do Sol Central os bilhões de sistemas solares. Portanto, os ensinos transmitidos se referem apenas ao nosso Cosmos visível, após uma Noite de Brahmâ."
(A Doutrina Secreta)
"Por aquela intuição superior adquirida por meio da Teosofia - ou Conhecimento Divino - que projetou a mente, do mundo da forma para o do espírito sem forma, o homem tem sido às vezes capaz, em todos os séculos e em todos os países, de perceber coisas no mudo interior ou invisível."
(A Doutrina Secreta)
"Lúcifer - o Espírito da Iluminação Intelectual e Liberdade de Pensamento-é, metaforicamente, o farol orientador que ajuda o homem a encontrar o seu caminho por entre as rochas e bancos de areia da Vida. Pois Lúcifer, em seu aspecto mais elevado, é o Logos, e no mais baixo, o "Adversário" - ambos refletidos em nosso Ego."
(A Doutrina Secreta)
"Para o Ocultista oriental, a Árvore do Conhecimento, no Paraíso do próprio coração do homem, torna-se a Árvore da Vida Eterna, e nada tem a ver com os sentidos animais do homem. É mistério absoluto que se revela somente através dos esforços do Manas aprisionado, o Ego, para libertar-se da escravidão da percepção sensória, e ver à luz da única e eterna Realidade presente."
(A Doutrina Secreta)
"Não pode haver nenhuma real libertação do pensamento humano nem expansão dos descobrimentos científicos, enquanto não for reconhecida a existência do espírito, e aceita como um fato a dupla revolução".
(A Modern Panarion)
"Vários são os pensadores que, ao estudar os sucessos e reveses das nações e grandes impérios, têm-se surpreendido com uma característica idêntica em suas histórias, a saber, a inevitável repetição de acontecimentos similares, depois de iguais períodos de tempo."
(Cinco Anos de Teosofia)
"Imaginar que um cérebro humano possa conceber algo que nunca dantes foi concebido pelo "cérebro universal" é falácia e vaidosa presunção. No melhor dos casos, o primeiro pode apanhar, aqui e ali, perdidos vislumbres do "Pensamento Eterno" depois que este assumiu alguma forma objetiva, quer no Universo visível, quer no invisível."
(A Modern Panarion)
"Nos idos dias de Sócrates e de outros sábios da antiguidade, como agora, aqueles que estão desejosos de aprender a grande Verdade sempre terão sua oportunidade se apenas "procurarem" encontrar alguém que os conduza à porta de ´quem sabe quando e como´."
(A Doutrina Secreta)
"Tudo é vida, e cada átomo, mesmo da poeira mineral, é uma VIDA, embora isso esteja além de nossa compreensão e percepção, porque está fora do âmbito das leis conhecidas por aqueles que rejeitam o Ocultismo."
(A Doutrina Secreta)
"Está bem, Ouvinte. Prepara-te, pois terás que viajar sozinho. O Instrutor pode apenas indicar o caminho. A Senda é uma para todos; os meios para chegar à meta variam com os peregrinos."
(A Voz do Silêncio)
Fonte: Levir